" Há algumas flores do amor que abrem só depois de longa intimidade." Osho

Beijo da Escrita


Eu escrevo como quem beija.
Um beijo longo, demorado, carinhoso.
Um beijo desses de língua.
A língua se movimenta lentamente
e me permite um gosto
ao mesmo tempo do outro
e de mim mesma.

Do outro que me encontra
neste texto
e do que há em mim que permite o encontro.


Eu escrevo como quem vive.
Assim, simples,
fazendo um texto de vida,
na vida.
Às vezes, penso,
afinal, que texto é esse que eu produzo?
Que vida é essa agenciada
pelo sabor das palavras compartilhadas,
sussurradas, como um afago?


Quem é esse outro que me encontra
e quem sou esse eu mesma que se expressa,
que se entrega...
nesse delicioso beijo de língua?
Nesse movimento que, afinal,
eu mesma provoco?
O gosto vem do meu movimento mesmo
associado ao movimento do outro.


Quando escrevo, eu me inscrevo.
Fica também o meu gosto
no gosto da língua do outro.
E isso me remete a não querer parar de escrever.Nunca.





domingo, 22 de agosto de 2010

Virgem

23 de agosto a 22 de setembro


"A ti Virgem, peço que empreendas um exame de tudo o que os homens fizeram com Minha Criação. Terás que observar com perspicácia os caminhos que percorrem, e lembrá-los de seus erros, de modo que através de ti Minha Criação possa ser aperfeiçoada. Para que assim o faças, Eu te concedo o Dom da Pureza."

E Virgem retornou ao seu lugar.

Principal Característica: Busca da perfeição.
Qualidades: Sentido Prático, Organização, Perspicácia, Saúde física.
Defeitos: Frieza nas relações, “Pré-ocupações”, Ceticismo, Critica Impiedosa, Manias, Hipocondria, Trabalho Compulsivo.
Elemento: Terra
Qualidade: Mutável
Polaridade: Receptiva
Planeta Regente: Mercúrio

A fuga de Virgem à vida e o rapto de Perséfone

Assim a psicóloga junguiana Maria Esther Harding se expressa sobre as vestais, virgens sacerdotisas entregues aos serviços da deusa Vesta princípio universal de fecundidade e reprodução:



“Em muitos lugares essas sacerdotisas eram prostitutas sagradas que se davam a estranhos e aos fiéis adoradores da deusa. O termo ‘virgem’ era claramente usado no sentido original de não-casada, pois essas mulheres eram comprometidas com o serviço da deusa, e seu sexo, sua atração e seu amor não eram para ser usados para sua própria satisfação ou em função de propósitos comuns da vida humana. Não podiam unir-se a um marido, pois sua natureza de mulher era dedicada a um propósito superior, o de trazer o poder fertilizador da deusa para o contato efetivo com a vida dos seres humanos”



O mito de Virgem nos leva diretamente, entre outras figuras mitológicas, a Perséfone (filha de Deméter, deusa da agricultura e da fecundidade, Ceres para os romanos), raptada por Hades, o deus do mundo subterrâneo e das almas dos mortos. A despeito do regente do signo ser Mercúrio ou Hermes parece que a simbólica ligada ao mito virginiano tem muito pouco a ver com esse deus – exceto pela necessidade virginiana de utilizar suas possibilidades de raciocínio concreto, em geral muito desenvolvido, para poder retomar a ligação com as próprias sensações corporais.

Deméter era, por toda a Grécia mas com variantes de região para região, a deusa das colheitas e da fecundidade da Terra: filha de Cronos e Réia, era essencialmente a deusa do trigo, tendo ensinado aos homens a arte de semeá-lo, colhe-lo e, com ele, fabricar o pão. Com Zeus, teve Perséfone, a “virgem eternamente jovem”.

Um dia, quando Perséfone (já mulher mas eterna adolescente) brincava entre as ninfas e suas tias Ártemis e Palas Atenas, seu tio Hades a raptou: decidido a transformá-la em sua esposa, atraiu-a com um narciso ou um lírio (ali colocado pelo próprio Zeus) e, saindo de seu reino em uma carruagem puxada por cavalos negros, arrastou-a para o mundo subterrâneo. Perséfone gritou, Demeter correu em seu auxilio, mas ao chegar ali nada encontrou nem soube do que havia ocorrido. Por nove dias e nove noites vagou com um archote, procurando-a, consumida de saudade. Finalmente, Hélios, deus que tudo sabia, cientificou-a do acontecido. Profundamente magoada com o sucedido, Deméter recolheu-se ao interior de um santuário, negando-se a retornar ao Olimpo e a permitir que a Terra fosse fecundada, enquanto Perséfone não voltasse ao seu convívio.

Com isso,a Terra ficou sem vegetação, as colheitas se interromperam e o equilíbrio das estações foi rompido. Zeus, intercedendo junto a Hades, solicitou-lhe que permitisse que sua esposa voltasse à superfície, pois os homens corriam o risco do desaparecimento – por fome. Hades, por fim, concedeu que Perséfone passasse três meses por ano com sua mãe, no Olimpo, ficando os outros nove com seu marido no Reino do Mundo do Subterrâneo. Conseguindo a filha de volta, Deméter retornou ao Olimpo e a Terra imediatamente cobriu-se de verde.

Desse episódio mítico nasceram os mistérios de Elêusis (cidade localizada a vinte quilômetros de Atenas), cujo significado maior era o rapto de Perséfone e sua descida ao Hades como morte simbólica, seguida do retorno glorioso – como a semente que morre no seio da Terra e, ao retornar, multiplica-se em muitos e novos frutos (como a romã, fruta dedicada ao deus do subterrâneo).

O mito dos virginianos sempre nos remete a uma história da relação “mãe e sua filha”; se for mãe-filho, este a experimentará através de sua Anima ou de outras mulheres; como diz Jung, “toda mãe contém em si sua filha e toda filha, a sua mãe (...). A experiência consciente desses laços dá a sensação de que sua vida se estende por gerações, o que dá a impressão de imortalidade.”

Mas o que tem tudo isso a ver com nossos “pacatos” virginianos, segundo a tradição popular compulsivamente dedicados à ordem e à organização, com “mania de doença” e críticos ao extremo?

O virginiano nasce em um mundo amplamente dominado pela figura materna, que vive na época uma fase critica em relação à própria sensualidade e corporalidade; assim, ao lidar com a criança recém-nascida, essa mãe lhe transmite a sensação de seu corpo não ser algo “gostoso de se tocar” (é muito freqüente a mãe do virginiano “não gostar” de trocar fraldas ou limpar e lavar seu bebê). Isso cinde profundamente o virginiano (seja homem ou mulher), pois a forte sensualidade presente nas pessoas que têm Virgem por signo solar se nega a manifestar-se futuramente. Como resultado, o virginiano inclina-se profundamente à racionalização e se esquiva de viver sua sensualidade e corporalidade (a primeira dimensão vital concreta) às últimas conseqüências, tentando manter-se imune aos apelas da Vida – até o momento em que a Vida, como Hades, se intromete e o obriga a enfrentar a experiência vital de forma mais plena.

Isso explica a duplicidade encontrada com freqüência no signo, perceptível no embate entre uma timidez e uma pudicícia muito fortes, de um lado, e o que se poderia chamar de “comportamento sensual não ortodoxo”, de outro. Essa duplicidade, angustiante enquanto não entendida, é muitas vezes encontrada tanto nas prostitutas, que com freqüência são virginianas (ou têm Lua ou Ascendente em Virgem), quanto na dona-de-casa que, inexplicavelmente, acalenta inúmeros (mas muitas vezes sufocados) desejos de se envolver com amantes de um dia só – como a personagem de Luis Buñuel, no filme Belle de jour. Perséfone não é possuída apenas por Hades no sentido “sexual”: ela é penetrada pela força vital, pelo fluxo interminável de sensações corporais que simbolizam a Vida percorrendo o organismo e vitalizando-o, submetendo-o a transformações constantes e necessárias para a manutenção da própria vida.

Outra figura mitológica que encontramos ligada a este signo e que nos ajuda bastante a entender os aparentes paradoxos vividos pelo virginiano é a da deusa Astréia, que representava o princípio da Justiça e da Harmonia. Essa deusa, filha de Zeus, vivia na Terra entre os homens numa época em que a Humanidade não conhecia desavenças nem desordem, ensinando a obediência às leis naturais. Com a gradual corrpução humana, entretanto, Astréia irritou-se com a Humanidade e deixou a Terra, indo para o Olimpo e transformando-se na constelação de Virgo.

Ela simbolizava, assim, a ordem intrínseca da natureza, e sua irritação com a Humanidade é o símbolo mítico do profundo desgosto virginiano por desordem, caos e desperdício de tempo ou recursos: todas as coisas têm um lugar certo, encadeadas no tempo, em ciclos naturais de rara harmonia, donde também a inclinação virginiana a ritos de justiça e reimplantação da ordem algum dia profanada e o seu extremo criticismo a tudo aquilo que lhe parece fora de lugar ou em desarmonia.

Em sua fase imatura, o virginiano (ou virginiana) mantém-se distante da própria capacidade de amar e de viver; tendo sido submetida a muitas criticas no lar materno e ao afastamento das próprias sensações corporais, a pessoa duvida de si mesma e inclina-se poderosamente a relações de “muito trabalho e pouca paga” – quer do ponto de vista profissional, quer do ponto de vista emocional-afetivo. A força da deusa, porém, pressiona por manifestar-se e o virginiano muitas vezes termina por viver em sua vida o papel de Sereia, envolvida num ritual narcíseo de amor por si mesma – a deusa síria Astargates, em muitos aspectos semelhante a Deméter, era simbolizada como um ser com corpo de mulher e pernas em rabo de peixe.

(Não custa lembrar que as sereias eram figuras míticas que se dedicavam a dois prazeres: observar-se no espelho das águas, num ritual de amor narcíseo, e cantar para os viajantes que por elas passavam, para que estes, não conscientes dos rochedos onde as sereias se postavam, naufragassem na tentativa de amá-las...)

Mas como lembra Maria Esther Hardng ao se referir à iniciação feminina nos mistérios do próprio corpo, “quando ela renuncia a suas pretensões pessoais, a energia e a libido, que a principio tinham propósitos individualistas, fluem para um lado feminino verdadeiro – para o qual ela fez o sacrifício (...)”. Dessa experiência nasce o poder de amar o outro. Antes de submeter-se a tal iniciação, seu amor não é mais do que desejo. Ela não pode mesmo ver a diferença entre ‘eu te amo’ e ‘eu quero que me ames’; não pode diferenciar entre ‘eu te amo’ e ‘quero a satisfação que podes me dar’. Quando tiver passado por uma experiência interior análoga à antiga prostituição no templo, os elementos do desejo e da possessividade terão sido abandonados, transmutados através da apreciação de que sua sexualidade e seu instinto são expressões de uma força divina, cuja experiência tem um valor inestimável, bastante distante de suas satisfações no plano humano.

“É impossível explicar a transformação que acontece quando o amor instintivo é aceito e assimilado dessa maneira”, continua a psicóloga, “pois trata-se de uma dessas mudanças misteriosas e inexplicáveis que pertencem ao reino psicológico, o reino onde o físico e o espiritual se encontram (...) No entanto, é claramente observável que, através de uma experiência desse tipo, o amor emerge, um amor que vê a situação da outra pessoa e pode altruisticamente simpatizar-se e apreciar.

“Afirma-se que a deusa Lua, em seu papel de prostituta, possui essa espécie de amor”, finaliza Maria Esther Harding. “Ishtar (deusa babilônica análoga a Deméter/Perséfone, com seus múltiplos seios e seu papel de fecundadora de colheitas e da Natureza) apresenta-se assim: ‘Uma prostituta compassiva sou eu’. Compaixão também é uma das principais características da Virgem Maria, que, embora nunca tenha sido considerada uma prostituta sagrada, tinha certamente experimentado uma submissão correspondente, através da qual ganhou seu título de Virgem. O amor que nasce da iniciação no templo tem a característica maternal: as lendas e os mitos são unânimes em afirmar que a deusa, como virgem, concebe através de uma concepção imaculada. O resultado do hierosgamos (‘casamento sagrado’) é a virgem engravidar: seu filho é o Herói, o Salvador, o Redentor. É o deus-homem, participando tanto da natureza do homem como da de deus. Psicologicamente, essa criança representa o nascimento de uma nova individualidade, que substitui o Ego da mulher, sacrificado através do ritual do templo”.

O mesmo vale para o ritual masculino virginiano, quando ele se integra a si mesmo através da maturação de seu núcleo feminino sensual e do abandono das expectativas coletivas em prol da força da própria vida que corre em suas veias. Deixa de fazer “o que é aceitável” ( o que sempre exige muita autocrítica), abandona a compulsão pelo ‘seguro’ e mergulha nas profundezas de si mesmo, isolado e solitário – de onde renascerá como filho natural de seu próprio “casamento interior”.

Porque se “maternidade”, no sentido mais amplo da palavra é dar à luz o frto da própria capacidade criativa, então esse mitologema se aplica a virginianos de ambos os sexos, pois todos são verdadeiramente compelidos a mostrar publicamente, de forma concreta e expressiva de quanto são capazes.

Ao fazer isso, “matam! A Sereia que vive dentro de si mesmo, pois a realização material elimina qualquer possibilidade de perfeccionismo – em função da qual existia o criticcismo exacerbado em relação a si e aos outros. Com o desaparecismento do narcisismo, em função da aceitação do Outro como pólo essencial para a plena realização da identidade 9já que a vivênia de sensualidade não consegue se dar isoladamente). A possibilidade de amar se manifesta de fato – seja esse Outro quem for, como o faria a sacerdotisa da deusa, pois o núcleo mítico de Virgem não reconhece a submissão ao “marido” ou “mulher” como norma ou fonte principal do encontro consigo mesmo.



sexta-feira, 6 de agosto de 2010

LEÃO
22 de julho a 21 de agosto


"E, então Deus chamou Leão...
"A ti Leão, atribuo a tarefa de exibir ao mundo Minha Criação em todo o seu esplendor. Mas deves ter cuidado com o orgulho, e sempre lembrar que é Minha Criação, e não tua. Se o esqueceres, serás desprezado pelos homens. Há muita alegria em teu trabalho; basta fazê-lo bem. Para isso Eu te concedo o Dom da Honra."
E Leão voltou ao seu lugar.
Principal Característica: alegria
Qualidades: dignidade, generosidade, extroversão.
Defeitos: egocentrismo, autoritarismo, teimosia, orgulho
Elemento: Fogo
Qualidade: Fixo
Polaridade: Ativo
Planeta Regente: Sol

Antes de tudo, um registro importante: o signo de Leão é regido pelo Sol, o que nos aproxima imediatamente da figura do pai (o Sol é o principal símbolo paterno na carta astrológica natal) e nos remete à noção de criatividade infinita – como aliás o permite o próprio Sol no desenvolvimento da vida terrestre e humana.
Nesse sentido, temos figuras leoninas perpassando toda a história mitológica da Humanidade. Para os egípcios, a deusa solar Sekmet, com cabeça de leoa, era responsável 9com seus rugidos) por provocar sulcos na terra, no verão, de onde germinavam as plantas entre elas o papiro e o trigo; para os hindus, Krishna era o Leão; para a cultura do Extremo Oriente, Buda era o Leão dos Sákia; na cultura judeu-cristã Cristo era o Leão de Judá; para os muçulmanos, o leão de Alá era Ali, genro de Maomé. Como registra Junito Brandão, “poderoso e soberano, símbolo solar e extremamente luminoso, o rei dos animais possui em alto grau as qualidades e os defeitos inerentes à sua espécie. Encarnação do Poder, da Sabedoria e da Justiça, deixa-se arrastar, em contrapartida, pelo escesso de orgulho e segurança, que lhe conferem uma imagem de Pai, Senhor e Soberano. Ofuscado pelo próprio poder, cegado pela própria luz, torna-se tirano, acreditando-se um protetor. Pode ser maravilhoso, tanto quanto insuportável: nessa polaridade oscilam suas múltiplas acepções simbólicas.”
O tema leonino, assim como o ariano, parece centrar-se na figura parental paterna. Isto é, na batalho do Herói contra seu pai ou do filho que busca a própria identidade através do embate com a figura paterna, utilizando os próprios recursos. Embate esse que, ao contrário dos signos que têm a figura do Pai como centro de seu mito, terá de ser vencido através da aproximação e do amor, e não das armas: somente assim o Herói conquistará seus valores espirituais (sempre frutos do Pai) e atingirá a transpessoalidade tão desejada.
Assim duas figuras distintas, uma da Grécia antiga e outra da Europa medieval, nos transportam ao núcleo mítico do leonino: o mito do Leão de Neméia e a lenda de Persifal e o Santo Graal.
A morte do Leão de Neméia foi o primeiro dos doze trabalhos de Hércules. Esse leão, criado pela deusa lunar Selene ou pela própria deusa Hera, vivia numa caverna de duas bocas durante o dia, saindo à noite para aterrorizar os bosques da Neméia, cidade da região grega da Arególida, devorando os rebanhos que lá pastavam. Era relativamente invulnerável, pois Hera o dotara de tais poderes contra flechas, maças, lanças e tacapes, que tais armas nem sequer lhe arranhavam o pelo!
Hércules foi à Neméia e enfrentou o leão em frente de sua própria caverna; num primeiro momento, esquecido da invulnerabilidade do animal, atirou-lhe flechas: nada aconteceu, senão assustar o animal, que se refugiou na caverna. Então Hércules entrou nu e desarmado no covil da fera, munido apenas de um archote para iluminar-lhe o caminho e, ao enfrentar corpo a corpo o animal, sufocou-o pela garganta com as próprias mãos. A seguir, retirou-lhe a pele e com ela fez uma vestimenta protetora, fazendo de sua cabeça um capacete.
A briga de homens contra animais é uma das mais antigas imagens míticas arquetípicas, sendo no seu sentido mais amplo a luta do Ego humano contra os instintos e impulsos impessoais que provêm do inconsciente; dessa batalha é que se definirá sempre o caminho da individuação e conquista de identidade da própria pessoa. Dessa vez, entretanto, trata-se de um fera destrutiva, pelos fortes impulsos emocionais de que é portadora, e não mais de um crustáceo de sangue frio e “sem paixões”, provindo dos reinos do inconsciente profundo, como vimos no caso do nosso canceriano no mês passado.
O leão é uma fera domesticável e não somente vencível através da destruição: corresponde às paixões do coração, que ficam a serviço de seu possuidor depois de humanizadas, como hércules utilizou a pele do Leão da Neméia a seu favor após a vitória.
Como diz Jung no estudo da simbologia deste animal, “ a forma animal enfatiza que o ‘rei’ é poderoso demais ou está revestido por seu lado animal e que, em conseqüência, se expressa apenas ‘animalescamente’, isto é, de forma apenas emocional, Emocionalidade, quando no sentido de afetos incontroláveis, é essencialmente animal, razão pela qual pessoas nesse estágio são tratadas apenas com o cuidado próprio de quem anda na selva ou com os métodos que o treinador de animais utiliza em seu trabalho”.
Em outras palavras: com muito cuidado ou com a dupla “chicote-torrão de açúcar”...
E é isso o que se verifica na vida dos leoninos: exposto ao convívio com um pai exvessivamente “ético” e “justo”, o leonino desde cedo vê punidas com severidade todas as suas fortes reações emocionais e premiadas em excesso suas manifestações de comportamento ético e justo. Sacrifica-se no altar do perfeccionismo, o que explica sua constante busca pelo “melhor”, e não vive a sensação de ser amado pelo que é – mas sempre, apenas, pelo “muito bom” que será capaz de produzir. Dessa forma, suas emoções são mantidas no inconsciente e se rornam verdadeiras paixões arrebatadoras e autônomas que dominam a consciência e o comportamento, sendo colocadas a serviço de quaisquer novas causas.
Entretanto, conhecer e “dominar” as próprias paixões (sempre uma vivência juvenil das emoções) é passo fundamental no processo de resgate do que de mais elevado vem do pai: o alto idealismo, cuja manifestação “torta” é a compulsão perfeccionista, e a sensibilidade ética à justiça, cuja vivência compulsiva é a rigidez de padrões de convívio pessoal. Daí conviverem os três no coração do leonino, enquanto estiver em sua fase menos madura: o idealismo exacerbado, o perfeccionismo implacável e a preocupação ética em demasia.
Mas o leão é a fase do processo e por isso Jung o associou à figura de Mercúrio no processo alquímico de transformação de matéria-prima bruta em ouro, à medida que a pessoa enfrente suas paixões no fundo da própria caverna, somente com os recursos de que dispõe, e que as coloque a seu serviço de maneira humanizada, isto é, em acordo com seu Ego – razão pela qual muitos reis portavam uma coroa em forma de leão, ou adornavam seu trono e estandarte com o animal: apenas quem conseguiu dominar as próprias paixões pode governar homens, ao oferecer-se enquanto exemplo.
Mas (e no caso do leonino isso é mais evidente ainda, dado o acúmulo de soberba e “orgulho” desenvolvido como compensação à rejeição paterna na infância) essa transformação só poderá se dar através do amor e da compaixão, depois de ter aprendido a se aceitar como se é e a se amar pelo que se é, o que nos remete a Parsifal e à lenda do Santo Graal, no primeiro século do milênio passado.
Von Eischenbach, poeta germânico da Alta Idade Média, escreveu Parsifal (obra que futuramente inspirou o compositor Wagner para uma ópera com o mesmo nome), descrevendo as peripécias de um jovem que busca encontrar o Santo Graal; esse Graal, supostamente o cálice no qual José de Arimatéia recolheu o sangue de Cristo durante o seu suplicio na cruz, estava perdido, e todos os cavaleiros e nobres lutavam por encontra-lo. Faz parte desse ciclo de lendas o mito de Artur, rei da Távola Redonda e unificador da Bretanha.
Conta essa história que estava Parsifal brincando no bosque perto da casa onde vivia com sua mãe (portanto, ainda sem pai), quando dele se aproximaram alguns cavaleiros reais que estavam em busca do Graal. Pasifal imediatamente quis reunir-se a eles em sua buscae comunicou a decisão à mãe; esta quis impedi-lo, mas Parsifal, por ter sua vida ligada ao alcance de um ideal e não à mãe, partiu assim mesmo. Essa partida provocou a morte dela, por tristeza, o que parece estar presente (muitas vezes de forma simbólica) no rito de iniciação de quase todo leonino.
Segundo os cavaleiros, Parsifal defrontou-se (sem nenhuma razão aparente) com um Cavaleiro Vermelho, o derrotou e passou a usar sua armadura (como Hércules fez com a pele do leão), sagrando-se cavaleiro. A seguir, ajudou uma jovem a atravessar um rio e dela recebeu, como prêmio, um anel: sem dúvida, dada a simbologia da cena, iniciava-se sexualmente. E um pouco adiante, sem esperar, deparou-se com uma enorme extensão de água, no meio da qual um velho pescava, mas sobre a qual não se via nenhuma ponte ou forma de travessia. Questionado por Parsifal se ali seria o fim de todos os caminhos, o velho pescador indicou-lhe o caminho para o Castelo do Graal, até então algo completamente desconhecido por Parsifal.
Para chegar ao castelo, Parsifal atravessou uma larga faixa de terra que, mesmo fértil, estava completamente devastada e improdutiva. Logo que chegou ao castelo, Parsifal compreendeu: seu rei, que na verdade era o mesmo pescador que encontrara antes, tinha sido ferido na altura do fígado (simbolicamente associado a Júpiter, ou Zeus, e sua capacidade de mobilizar poder criativo) e era perpetuamente mantido assim. Naquela tarde, como em todas as tardes, quatro escravas (uma com uma espada, outra com um cálice dourado, uma terceira com uma bandeja prateada e a quarta com um lança) entraram na sala onde o rei estava e enterraram profundamente a lança na ferida do rei, tornando a machucar seu núcleo de poder criativo e impedindo-o de reavivar sua terra.
Parsifal observou a estranha cerimônia mas, pouco se importando com o sentido nela implícito ou com a continua dor do rei, foi dormir. Ao acordar, o castelo estava deserto e Parsifal encontrou um velha mulher, que lhe disse que se tivesse perguntado “ Para que o Graal serve?”, concoído da sorte do velho rei, teria imediatamente curado sua ferido e ao mesmo tempo dado vida nova à terra desolada. Mas perdido na própria busca e cheio de orgulho que ela lhe provocava, não o pudera fazer. Parsifal saiu do castelo, este desapareceu e só reapareceria quando ele tivesse a necessária maturidade e compaixão para fazer a pergunta redentora.
A história prossegue e, depois de muitas aventuras, durante as quais Parsifal vai desenvolvendo a própria capacidade de compaixão e perdendo sua soberba, por fim o castelo reaparece e a pergunta é feita. Imediatamente o velho rei fica curado, a terra começa a produzir e o rei informa a Parsifal ser seu avô. Com isso o Castelo do Graal é entregue aos cuidados de Parsifal, que reencontra o pai – mas agora um pai mais antigo, gerador do próprio pai de Parsifal, e não apenas o pai carnal de quem se perdera na infância.
Em outras palavras, o Self, símbolo do pai, motivo pelo qual o leonino se bate tanto para encontrar a verdade! Não mais o pai do ariano, que deve ser vencido pela confrontação direta, nem o pai do capricorniano, que será vencido através da descoberta dos limites da realidade que não soube oferecer ao filho, mas o pai que é fonte de criatividade e só estava à espera de ser redimido pelo próprio filho – o qual, por sua vez, poderá faze-lo apenas ao aprender a se condoer e a expor as condições mais simplesmente humanas que carrega dentro de si mesmo, para poder realizar toda a criatividade de que é potencialmente capaz.
Seja o Graal o que for – a causa defendida, a busca de espiritualidade ou algum objetivo pessoal -, ele está sempre à frente do impulso leonino de busca, atraindo-o irresistivelmente. Que o leonino não deixe de reconhecer suas qualidades mais humanas – emoções – na defesa irrestrita dessa causa, na busca incansável dessa espiritualidade ou na consecução denodada desse objetivo!

domingo, 4 de julho de 2010

Uma Poesia para Câncer

Memória - Cecilia Meireles


Minha família anda longe
contravos de circunstancias:
uns converteram-se em flores,
outros em pedra, água, líquen,
alguns, de tanta distância,
nem têm vestígios que indiquem
uma certa orientação.



Minha família anda longe,
- Na Terra, na Lua, em Marte -
uns dançando pelos ares,
outros perdidos no chão.

Tão longe, a minha família!
Tão dividida em pedaços!
Um pedaço em cada parte...
Pelas esquinas do tempo,
brincam meus irmãos antigos:
uns anjos, outros palhaços...
Seus vultos de labareda
rompem-se como retratos
feitos em papel de seda.
vejo lábios, vejo braços,
- por um momento, persigo-os;
de repente os mais exatos,
perdem a sua exatidão.
Se falo, nada responde.
Depois, tudo vira vento,
e nem o meu pensamento
pode compreender por onde
passaram nem onde estão.

Minha família anda longe.
Mas eu sei reconhecê-la:
um cílio dentro do Oceano...
um pulso sobre uma estrela,
uma ruga num caminho
caída como pulseira,
um joelho em cima da espuma,
um movimento sozinho
aparecido na poeira...
Mas tudo vai sem nenhuma
noção de destino humano,
de humana recordação.

Minha família anda longe.
reflete-se em minha vida,
mas não acontece nada:
por mais que eu esteja lembrada,
ela se faz de esquecida:
não há comunicação!
Uns são nuvem, outros lesma...
Vejo as asas, sinto os passos
de meus anjos e palhaços,
numa ambígua trajetória
de que sou o espelho e a história.



Murmuro para mim mesma:
"É tudo imaginação!"

Mas sei que tudo é memória...

O convite do mês é navegar pelos mares da emoção e, aos mais corajosos, um mergulho nas profundezas do sentimento. A diferença é tremenda: enquanto, nas emoções, a visão que temos é apenas das reações que as pessoas, objetos, situações provocam em nós: nos sentimentos, entendemos as causas das reações e podemos de quebra descobrir sentimentos que estavam latentes apenas. Somos convidados a remexer em nossas memórias, em nossas emoções e com elas percebermos o que sentimos e como sentimos. Não é nada fácil esse momento.

Confesso que, apesar de adorar a água e as sensações que em mim provoca, preciso de uma dosagem de força de vontade pra mergulhar nas sensações. O motivo é simples: aqui não podemos fingir; não dá pra racionalizar num primeiro momento, pois o medo paralisa. Câncer vem ensinar o mundo das emoções, sua instabilidade, flutuação, a todos nós mortais. Claro que como primeiro signo do elemento água e tendo ainda a incumbência de levar-nos a matriz de nossas emoções: a família, será de forma muitas vezes visceral, pois é um mergulho no útero das razões de emoções enraizadas em nós.



Talvez por isso muitos associem o inverno a situações sombrias, depressões. Prefiram o verão, o calor, a claridade. Entretanto, para aqueles que conseguem encontrar o equilíbrio no meio do caos emocional, conseguem respirar, soltar, esses atingem um outro estágio e deparam-se com o centro dos sentimentos. A nossa capacidade humana de sentir, de sentir a materialização do sentimento em si mesmo. Parece papo de doido? È, com certeza será para todos aqueles que racionalizam, que criaram uma crosta confortável de proteção ao sentir. No entanto, tenho certeza absoluta de que muitos compreendem o que falo, pois o sentimento ultrapassa essa razão. É algo que não conseguimos expressar em palavras, a razão não consegue alcançar, mas, uma vez vivido nunca mais será esquecido, pois é a razão da própria existência, é a poesia que nos mantém vivos. A única razão de nossa existência: o sentir. Experenciar na matéria o sentimento e suas conseqüências. Só desta maneira, poderemos compreender o outro, a natureza e acima de tudo respeitá-los e preservá-los.



Assim, permita-se nesse mês sentir suas próprias emoções, perceba onde elas levam você, vá até suas raízes emocionais, o que elas querem mostrar, que emoções você busca remontar e por que remonta. Enfim, viaje nesse mar de emoções existentes em você. E dessa viagem faça a poesia de sua memória. Boa viagem!

Máxima Canceriana: Lar, doce lar, não há lugar como meu lar!!!

CÂNCER
21 de junho a 22 de julho



"E, então Deus chamou Câncer...
"A ti Câncer, atribuo a tarefa de ensinar aos homens a emoção. Minha Idéia é que provoques neles risos e lágrimas, de modo que tudo o que eles vejam e sintam desenvolva uma plenitude desde dentro. Para isso, Eu te dou o Dom da Família, para que tua plenitude possa se multiplicar."
E Câncer voltou ao seu lugar."


Principal Característica: sentimento
Qualidades: empatia, sensibilidade
Defeitos: possessividade, apego ao passado, flutuabilidade
Elemento: Água
Qualidade: Cardeal
Polaridade: Receptivo
Planeta regente: Lua
Aqui nos deparamos com o elemento água, o grande aprendizado de nossas vidas, pois lidar com as emoções não é tarefa fácil como veremos nesse signo regido pela Lua. Câncer possui uma emocionalidade quase que irresistível e exige como principal tarefa de integração interior ou individuação a necessidade de resgatar a própria individualidade do regaço materno. Entretanto, nosso amigo terá que enfrentar a figura da Mãe Terrível para sair vitorioso. Há uma figura mitológica grega que parece representar mais de perto a Mãe Terrível que perpassa a vida de todo canceriano, seja homem ou mulher, a deusa Hera e o caranguejo que vivia no pântano da Hidra de Lerna, que nos remetem diretamente aos doze trabalhos de Hércules.

Enfrentar a Hidra, um monstro de muitas cabeças que habitava no pântano de Lerna, foi o segundo dos doze trabalhos que Hércules realizou, todos por inspiração direta de Hera, que o odiava mortalmente. Zeus se apaixonara por Alcmena, prometida de Anfitrião, rei de Tebas, e através dela resolvera dar a essa cidade grega um herói como jamais existira. Para isso, sabedor da fidelidade de Alcmena, “travestiu-se” de Anfitrião, que estava a guerrear, e teve com ela três noites de amor, engravidando-a de Hércules; a seguir, com o retorno do legítimo prometido e após ter se casado com ele, Alcmena engravidou de Íficles. Nasceram, assim, dois gêmeos.

Não feliz com isso, Zeus tramou a imortalidade de seu filho mortal preferido: adormecendo Hera, fez com que a criança sugasse o seio da deusa. A despeito de a deusa ter acordado e repelido Hércules, borrifando longe o próprio leite e dando origem, com isso, à Via Láctea, o menino tornara-se imortal. E isso, Hera nunca perdoou...

Lançou contra Hércules a maldição da raiva e da demência, e ele acabou por matar os próprios filhos e a esposa: a seguir, já lúcido, Hércules consultou o oráculo de Delfos sobre como expiar tão bárbaro crime, recebendo como resposta a servidão ao primo Euristeu. E este, por sua vez, sob o mando de Hera, deu-lhe como tarefa os doze trabalhos (dos quais se supunha não sairia vencedor), entre os quais o enfrentamento da Hidra de Lerna.

Na verdade, os doze trabalhos representam a longa série de tarefas que o Herói terá de executar a contento para, depois de todas, renascer um homem novo. ( Lembram do que Cristo falou: aquele que não nascer de novo...)

Simbolicamente, segundo o mitólogo francês Paul Diel: “as múltiplas cabeças do monstro de corpo de serpente configuram os vícios múltiplos, nos quais se prolonga o corpo da perversão, a vaidade. Vivendo num pântano, a Hidra é particularmente caracterizada como símbolo dos vícios banais. Enquanto o monstro viver, enquanto a vaidade não for dominada, as cabeças, símbolos dos vícios, renascerão, mesmo que por uma vitória passageira se consiga cortar uma ou outra. Para vencer o monstro, Hércules usa a espada, arma de combate espiritual, conjugada com o archote, que cauteriza as feridas, a fim de que, uma vez cortadas, as cabeças não possam mais renascer. O archote simboliza a purificação sublime.”

Acontece que – e aqui encontramos o nosso crustáceo – no pântano de Lerna habitava um imenso caranguejo, enviado por Hera, o investiu contra Hércules pelas costas (uma manobra canceriana característica) no momento mesmo em que ele enfrentava a Hidra, “pinçando-o” pelas ancas e pelos pés. O Herói conseguiu matá-lo e, em seguida, derrotar a Hidra.

O episódio nos mostra a raiva da matriarca contra a possibilidade de independência e identidade individual de sua criatura; daí a batalha pra livrar-se da mãe ser tão constante na vida dos cancerianos – uma batalha que sempre parece maior do que é realmente, uma vez que a figura materna representa, para o inconsciente mais profundo do canceriano, a unidade ourobórica toda-poderosa que detém os destinos de si mesma e de cada elemento da criação.

Na vida do canceriano (tanto homem quanto mulher), o pai está com freqüência ausente ( viagens, serviço, etc..) e a mãe é percebida como o único pólo de poder no lar, razão pela qual a criança mal consegue apropriar-se do em geral grande poder criativo paterno – para o menino isso é perigoso, pois a figura paterna fica ofuscada pelo animus gigantesco da mãe, na óptica da criança; mais ainda: não raro a mãe da menina canceriana disputa com ela a primazia pelo poder feminino no lar, obrigando-a a “ocultar-se de si mesma”.

Assim, essa vivência infantil e aquele padrão mítico emprestam à mãe uma dimensão que ela muitas vezes não possui, o que explica o “complexo materno” encontrado no canceriano (seja ele homem ou mulher): a cada nova relação vem à tona a busca do “útero materno”, a busca de quem “cuide” dele, com a manifestação de comportamentos infantilizados que se chocam contra a aparente liberdade realizadora da pessoa – ao fim e ao cabo, ela está em busca de libertar-se do pesado sentimento de isolamento e separatividade que representou a saída do útero, mas tentando sempre retornar a ele...

Muitas vezes esse padrão duplo – o monstro sendo enfrentado e o caranguejo desestabilizando por trás – é vivido projetivamente e encontramos a relação típica na qual o parceiro, ao mesmo tempo em que parece apoiar as tarefas de crescimento do canceriano, “sabota-o” pelas costas nos momentos mais difíceis. Ou vice-versa.

Entretanto, temos de nos aproximar também de outras figuras mitológicas para ampliar o entendimento do profundo substrato mítico de Câncer; para isso, devemos ver de perto o escaravelho sagrado egípcio e a deusa grega Tétis, deusa dos mares e oceanos, de onde toda a vida surgiu.

O escaravelho, que já ocupou o lugar do caranguejo neste signo do Zodíaco (assim como a Águia fora o símbolo mais antigo do signo de Escorpião), era considerado símbolo da perpetuidade da vida pelos egípcios, dado o fato aparente de “renascer” de uma bolinha de terra. Na verdade, eram pequenas bolas de terra e esterco, nas quais o inseto depositava suas larvas, que cresciam com o calor da fermentação do esterco. O fato de o escaravelho rolar a bola de um lado para outro, “após o que a vida surgia”, implicou a comparação com a passagem do círculo solar de um lado para o outro do horizonte sua imediata associação com o deus Sol egípcio, “pai” de toda criação.

A outra figura mitológica, Tétis, parece explicar diretamente a capacidade canceriana muito comumente encontrada no canceriano de representar as imagens do inconsciente coletivo de maneira criativa. A deusa, que havia recebido a profecia de que um filho seu seria muito maior do que qualquer deus, foi impedida por Zeus de desposar uma divindade: ela só poderia ter como esposo um mortal, homem comum. Em outras palavras, somente depois de ter aprendido a canalizar através do Ego seus imensos poderes de criação e transformação, próprios de seu interior inconsciente oceânico, é que o canceriano se realizara, Porque Tétis nos aproxima mais uma vez da Mãe Terrível.

De Peleu, Tétis concebeu Aquiles, o grande herói da Guerra de Tróia. Para impedir que Aquiles se expusesse a essa guerra, Tétis vestiu-o de mulher, pois havia a profecia de que Aquiles teria uma vida curta e cheia de glórias ou uma vida longa mas inglória: Tétis, Mãe Terrível, preferiu a segunda hipótese. E, assim, às vezes, o canceriano prefere ficar no colo da mãe em vez de libertar seu imenso potencial criativo; outras vezes, fica à espera de que alguém venha realizar projetivamente o seu próprio potencial.

Por isso, a separação da mãe é sempre um enorme rito de passagem na vida do canceriano, marcando definitivamente seu segundo nascimento e, talvez, o primeiro de sua real individualidade. Mas enquanto não for feito, assim como Aquiles o fez e ganhou imortalidade ao morrer na batalha decisiva da Guerra de Tróia, o canceriano continua a buscar o útero do qual foi separado – mantendo-se impedido, dessa forma, de transcender essa busca e aproximar-se dos dons efetivos de criatividade que herdou do Pai Divino.

Este signo domina a quarta casa do mandala zodiacal, que representa o fundo do céu, ou como gosto de chamar nossa âncora – a bagagem dessa e de outras vidas, ali estão as informações referentes a nós. Também essa casa remete-nos à parte mais obscura de nós mesmos. Muitas das informações que ali estão fazemos questão de esconder, fugir. Situações, ações que forjaram nossa criança, tornando-a mimada, abandonada, rejeitada, violentada, etc. Visitar essas informações, lembranças é olhar para nossas feridas, nossas chagas que determinam em nosso presente as nossas ações, reações. Entretanto, passar por esses escombros leva-nos a encontrar o valioso em nós, que está perdido lá, esperando pelo resgate. E o valioso, o mais importante é resgatar nossa capacidade de sentir, de acreditar, buscar nossa inocência perdida para a partir dela reconstruir nossa história. Junto com ela estará a nossa verdadeira capacidade de sentir tudo. É uma jornada e tanto. Cheia de emoções, de sustos, suspiros, choros. Ao final dessa aventura, encontraremos o pote de ouro: nossa inocência!

sábado, 22 de maio de 2010

Gêmeos - Ora no Céu, ora no inferno!

GÊMEOS
21 de maio a 20 de junho


E, então Deus chamou Gêmeos...
"A ti, Gêmeos, Eu dou as perguntas sem respostas, para que possas levar a todos um entendimento daquilo que o homem vê ao seu redor. Tu nunca saberás por que os homens falam ou escutam, mas em tua busca pela resposta encontrarás o Meu Dom reservado a ti: o Conhecimento."
E Gêmeos voltou ao seu lugar.



Principal Característica: movimento
Qualidades: adaptabilidade,versatilidade
Defeitos: racionalidade excessiva, falta de comprometimento
Elemento: Ar
Qualidade: Mutável
Polaridade: Ativo
Planeta regente: Mercúrio
Exílio: Júpiter
Exaltação: Plutão


O geminiano é aquela pessoa “ar-mental-mutável” que faz estagio na juventude por longo tempo, às vezes, a vida toda. Tem um frescor de adolescência vida a fora e, nesse modelo, baseia seu comportamento.
O mitologema “gêmeos” representa pólos de forças positiva e negativa combatendo-se, mutuamente de forma que o Bem vença – não através de meros embates externos, mas sim pelo embate dentro do próprio ser, cuja unidade o par de gêmeos representa.
O embate parece representar, na maior parte das vezes, a luta do ser contra a própria Sombra, a qual é composta pelos aspectos negados pelo próprio indivíduo: é o inimigo interno, nascido e vivido, conjuntamente, que nunca poderá ser completamente superado mas com o qual o indivíduo deverá combater sempre, pois é desse embate sem tréguas que surge o próprio crescimento da pessoa humana.
Esse signo traz o mito de Castor e Pólux. Zeus estava apaixonado por Leda, esposa de Tíndaro, para seduzi-la ele usou de um estratagema: se transformou em um cisne, já que ela estava grávida de Tíndaro e tinha se transformado em gansa para escapar dos assédios do deus do Olimpo. Resultado disso foi que Leda colocou dois ovos: de um nasceu Castor e Clitemnestra, crianças mortais, porque filhos do Rei de Esparta, Tíndaro, de outro, entretanto, nasceram Pólux e Helena, ambos filhos de Zeus e, por isso, imortais. Observe-se que em ambos os pares de irmãos temos uma parte mortal e uma imortal, além do tema central “irmãos de alma”.
Castor e Pólux eram muito diferentes, enquanto o primeiro era guerreiro, forte, impositivo e mortal, Pólux era músico, delicado, sensível e imortal. Ambos brigavam muito em função dessas diferenças, até que Castor,envolvido numa batalha contra dois outros gêmeos, sucumbiu e morreu. Pólux, coberto de dor e saudade, pede a seu pai Zeus que intercedesse junto a Hades para trazer seu irmão de volta, haja visto tratar-se de um mortal, ou que Hades aceitasse a vida do próprio Pólux em troca da de Castor. Castor havia morrido e a palavra de Hades era irrecorrível, além disso Pólux por ser imortal não poderia morrer...Mas um arranjo foi feito e os dois irmãos receberam autorização para viver um dia cada um, alternadamente, no reino de Hades e nos domínios de Zeus, a superfície da Terra: assim enquanto Castor estivesse vivo, Pólux desceria ao reino de Hades, invertendo-se as posições no dia seguinte.
Hummm... este é um dos mais belos mitos e de implicações múltiplas da mesma forma que os geminianos são multifacetados. O núcleo mítico descrito acima nos remete a uma vivência compulsiva geminiana de suas oposições: em sua fase “mortal” desce aos infernos e depara-se com sua Sombra, em contrapartida quando em sua fase “imortal” compartilha dos prazeres divinos. Isso significa tratar-se de um individuo que apresenta forte oscilação de humor, indo da depressão à euforia e desta à depressão novamente, de modo cíclico. Entenda-se cíclico, como de um dia ao outro – como no próprio mito, ou de um momento ao outro, no próprio dia. Da mesma forma, pode ter um comportamento elogiável num momento e em outro tem uma postura condenável pelas normas sociais vigentes. Segundo a observação popular é o “duas caras”, ou seja, hora comporta-se de um jeito, em outra de outro, conforme lhe convém.
Mas calma! Nada de condenar tão apressadamente nosso geminiano. Essa capacidade de estar ora no céu, ora no inferno pode e deve ser vista também de outra forma: a capacidade que a mente tem de capturar o divino quando em sua poção mais elevada e a de levar essa compreensão a nossa poção obscura, lembrando o portal da mente humana que, ao ser atravessado e compreendido, dá inicio ao mais importante processo de evolução – o principio do desenvolvimento da inteligência humana. Além é claro de uma outra característica geminiana muito peculiar: a curiosidade. O geminiano é um curioso full-time. Está sempre plugado nos canais de modernidade, comunicabilidade, cultura.
Para compreender mais essa natureza tão mutável, precisamos mencionar outro mito que trata do próprio regente do signo: Hermes, ou Mercúrio – para os romanos – e como ficou conhecido, um deus que apresenta as mesmas qualidades ambíguas. Para começar Hermes é fruto da união (e não, como em outras vezes, da sedução ou estupro de Zeus sobre uma mortal ou imortal) entre esse deus e a ninfa Maia (segundo algumas versões, a própria deusa Noite, a mais “profunda” das deusas olímpicas e representante das profundezas do inconsciente e das forças da Natureza), Hermes é o filho mais inteligente de Zeus!
Logo depois de nascido, foi enfeixado e amarrado num salgueiro (árvore sagrada, símbolo de imortalidade e fecundidade) demonstrando sua habilidade de “ligar e desligar” - como o faz o Pensamento -, desatou-se e mostrou sua verdadeira face: roubou parte do rebanho de seu irmão Apolo, atou folhas aos rabos dos animais – para que eles não deixassem rastros. Sacrificou doze dos animais aos deuses olímpicos. Eram apenas 11 deuses. Um animal era para si mesmo. O recém-nascido havia se promovido à condição de imortal! Apolo procura Zeus para queixar-se e este por sua vez interroga Hermes e o menino, afinal, prometeu que nunca mais mentiria... mas que nunca contaria toda a verdade!
Apolo, encantado pelos sons da lira e da flauta de Pã que Hermes havia criado, deu-lhe em troca um cajado de ouro e um rebanho: Hermes aceitou o “negócio”, mas, revelando-se já um bom negociante, pediu ainda lições de adivinhação – das quais Apolo era o deus por excelência. Desta forma, o caduceu passou a figurar entre seus atributos, bem como a arte divinatória, ambos necessários a tarefa de pastorear ou guiar os homens.
Não tinha um lugar a ele dedicado, portanto Hermes presidia as estradas, as fronteiras, as encruzilhadas. Mais tarde, foi alçado a psicopompo, acompanhante das almas ao Reino de Hades e sua esposa, Perséfone. Gerado em uma caverna, tinha pleno domínio das trevas, além do fato de ser condutor de homens e ter sandálias de ouro que lhe permitiam andar depressa.
Para o estudioso romeno de mitologia comparada e história das religiões Mircea Eliade, “ a astúcia de Hermes, a sua inteligência prática, a sua inventividade (...), o seu poder de tornar-se invisível e de viajar por toda parte em um piscar de olhos, já anunciam os prestígios da sabedoria, principalmente o domínio das ciências ocultas, que se tornarão mais tarde, na época helênica, as qualidades especificas desse deus. Já para outro estudioso de mitologia Walter Otto, “falta a Hermes dignidade”: ele se vale principalmente de astúcia e não de força, de “mágica” e não de heroísmo. Aqui vale lembrar outra versão do mito de Hermes, que conta ser ele irmão gêmeo de Afrodite, com o qual teve um filho, Eros: por essa versão, temos outra dimensão de Hermes, qual seja, a de manter ligadas (através de Eros) relações que tem tudo para manter-se separadas dadas as suas diferenças, ao mesmo tempo que certa paixão (Afrodite) por tal tipo de relações.
Jung identificou em Mercúrio o misterioso momento em que o inconsciente, às vezes destrutivo, outras vezes hábil, outras ainda terrível, mas sempre ambíguo e fértil, “prega peças” no ser humano; pois ser “embusteiro” era um dos principais atributos de Hermes, bem como ser “andrógino” (homem-mulher) double-face, visando levar o ser humano à descoberta da verdade, sempre oculta atrás das parcialidades do pensamento.
É um deus benéfico, interessado em síntese de opostos por comparação de diferenças e conflito entre elas; mas pode ser ao mesmo tempo um deus terrível, por sua facilidade de argumentação (que o geminiano utiliza para si e para conviver com os outros), através da apresentação da realidade travestida em ilusão conceitual (lembremos que a mãe desse deus é Maia – já ouvimos falar das ilusões dos véus de Maia!!)
Com tudo o que foi mostrado, dá para se ter uma pequena amostra do turbilhão que é a essência geminiana. E, claro, como este signo aparece na mandala astrológica de todos os nós é bem oportuno verificar onde está energia se manifesta. Importante estar com a mente bem aberta, olhos e ouvidos atentos para toda informação que chegar, afinal a percepção geminiana com certeza nos levará a transpor os limites de nossa ignorância! Cabe avisar que o caleidoscópio mental deste signo pode provocar enjôos aos mais desatentos.

“Tenha cuidado com o que você pensa,
pois sua vida é dirigida por seus pensamentos.”
Provérbios 4:23

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Aprender

“O caderno é uma metáfora da vida,Quando os erros cometidos eram demais, eu me recordo,
Que a nossa professora nos sugeria que a gente virasse a página.
Era um jeito interessante de descobrir a graça que há nos recomeços.
Ao virar a página, os erros cometidos deixavam de nos incomodar e a partir deles,
A gente seguia um pouco mais crescido.
O caderno nos ensina que erros não precisam ser fontes de castigos.
Erros podem ser fontes de virtudes!
Na vida é a mesma coisa, o erro tem que estar à serviço do aprendizado;
Ele não tem que ser fonte de culpas e vergonhas.
Nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande
sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida.
Uma coisa é a gente se arrepender do que fez! Outra coisa é a gente se sentir culpado.
Culpas nos paralisam. Arrependimentos não!
Eles nos lançam pra frente, nos ajudam a corrigir os erros cometidos.” (Fábio de Melo)

Há dias penso a respeito de como somos educados, como aprendemos, e como adquirimos nossos conhecimentos nas mais variadas áreas de nossos interesses e atuação. E, justamente, num desses dias o texto acima que se encontra na música O caderno, no cd Vida do Padre Fábio de Melo, veio parar em minhas mãos. Encantei-me com a simplicidade e com a veracidade do texto. Tão simples; tão profundo. Pena que essa simplicidade e ensinamento tão profundos nem sempre faça parte da forma como aprendemos. Entendem? Como ainda, em nossa fase adulta, escamoteamos nossos erros, os evitamos, nos desculpamos, não nos responsabilizamos, e principalmente temos medo, vergonha, culpa de enfrentarmos nossos sentimentos, nossas emoções frente aos nossos atos. É difícil crescer, emocionalmente em responsabilidade, quando evitamos o confronto mais simples: o com nosso eu idealizado!

A energia de Touro neste mês traz a possibilidade de trazer para a matéria, a concretização daquilo que desejamos. E, eu pessoalmente desejo que cada um de nós torne seu aprendizado mais leve, já que muitas vezes a lição a ser aprendida é pesada. Tornar algo leve depende do ponto de vista de onde olhamos a situação. Se nos sentirmos culpados, com vergonha, ou com medo certamente a lição não será vista na sua totalidade. E, nosso tempo está passando. Precisamos enfrentar com clareza nossas mazelas. E, não como crianças mimadas, ou amedrontadas. Discernir que o importante é o aprendizado. E cada um tem uma forma de aprender. Portanto, a vida nos trará situações dentro dessa nossa capacidade. Quantos de nós conseguimos entender um “não” da primeira vez que ele se apresenta? Quantos de nós conseguimos aceitar nossos erros e não fazer dramas em cima? Entendem: a simplicidade da vida exige de cada um que administre com muita maturidade suas situações. Essa é a lição. Certa vez li algo mais ou menos assim “o importante é o processo não o resultado”, pois é durante o processo que somos lapidados, modificados.

Devemos aproveitar a energia desse mês para nos colocar em sintonia com o que há de melhor em nós e permitir que essa energia traga até nós as lições necessárias para a lapidação de nosso ser. Sentir gratidão por que seja lá o que for que aparecer a nossa frente é o nosso quinhão. Não ter medo, não ter vergonha, nem sentir culpa do que quer que seja, pois somos o resultado de tudo que já passamos e vivemos. Temos no hoje a oportunidade do melhor presente: construir o nosso futuro. Mãos a obra!! Nas quedas leia a mensagem lá de cima. Força.... e Fé na jornada! A melhor lição está por vir.



A taça

A taça
Da jarra da minha existência, despeja-se a água que enche as taças de meus dias. O mineral líquido é sorvido naquelas que eu mesma escolho. Apesar da pureza da água independer da qualidade da taça, esta influencia sobremaneira no sabor daquela.
Embora o sol teimasse em brilhar, acordei com a sensação de água barrenta na boca. O gosto-cheiro-de-terra-molhada instalou-se em minha língua. Preencheu minhas rodovias internas. Desde o bom-dia até sonhe-com-os-anjos. Tudo tinha aquele gosto. Não é de minha natureza escamotear as sensações que vivencio. Entretanto, tentava disfarçar a água-barrenta que me invadia. Talvez por saber instintivamente que ela estivesse dentro de mim. É difícil aceitar a própria lama.
Decidi, influenciada por meu estado, mexer nos vasos. Comprar a terra boa. Forrei a mesa com jornal. Comecei o processo depurativo. Gosto desse tipo de tarefa. Artesanal. Esqueci dos compromissos e passei a dedicar-me às folhagens. Com cuidado, tirei a planta do primeiro vaso. Coloquei-o na mesa. Retirei a terra que a pouco a envolvia. Percebi a secura. Do corte no plástico, o aroma orgânico invadiu o ambiente. Feito café passado.
Depositei no vaso a nova terra. Ao pegá-la, notei a sua fofura. A sensação de mexê-la, fazer cuidadosamente o buraco para abrigar as raízes, trouxe-me um sentimento de alívio. Processo óbvio. Entretanto, meus pensamentos foram iluminados pela certeza de que aquela terra havia passado por um apodrecimento natural e inevitável.
Para tornar a terra fértil, cava-se um buraco; deposita-se nele o material orgânico. Esse é coberto por uma camada de terra. Com o tempo, o lixo orgânico apodrece. Em suas entranhas, a Mãe Terra o decompõe para dali algum tempo devolver-lhe a vida. A complexidade da equação ocorre fora do alcance dos olhos curiosos. No ventre da Mãe Terra. Naquele lugar assustador. Povoado pela escuridão. Nesse receptáculo de morte, engendra-se a vida.
Esta informação pareceu-me esclarecedora. O gosto de lama deveria fazer parte de meu processo de decomposição. Deparar-me, com os medos, com as carências, com a incapacidade, com os motes, com as raivas, com os sentimentos mesquinhos, assusta. No entanto, ao depositá-los em meu território sagrado depuro o meu ser.
Entro em contato com a aridez de meus temores. Com a enorme ausência de vida. Lambuzo-me com a podridão dos meus desejos. Nesse contato direto, sem preservativos, encontro os resquícios do monstro ferido, acuado. Aquele que me faz reagir por meios ilícitos. E, ele sangra o fel da rejeição. Expõe a ferida. Urra por regeneração. De seus gemidos, compreendo a ansiedade que assola a alma. Seus espasmos ecoam como soluços, impossível conter a avalanche de emoções que esse contato detona. A água percorre meu corpo. Jorra das vísceras desse animal ferido. Currado em seus princípios. Fico ali. Paralisada. Vejo em seu semblante os traços contorcidos de minhas emoções. Cristalizadas. Petrificadas. Exibe com ferocidade meus inconfessáveis complexos, medos, quereres, desejos ínfimos. Numa torrente avassaladora, reconheço-me em seu sentir. Percebe minha aceitabilidade. À luz da recepção, responde com um facho dourado de energia. Das lágrimas resulta o suspiro. E, dele o riso de interação. O monstro se foi. Restauro meu animal sagrado. Desse confronto, veio à força de minha sombra. A consciência da construção obsoleta e defensiva de estruturas contra a vida. Os padrões pelos quais me pautei. As verdades em que acreditei, os medos que me paralisaram, a enorme carência de amor mascarada. Assumo e devolvo-lhe o estratificado em mim. Descobrir o monstro requer integridade interior. O barro dessa taça mistura-se à água. Para aqueles que se perdem nesse combate, a taça deturpa o sabor da água.
Aflora a minha consciência as verdades-externas que absorvi; os delírios sociais que comunguei; os medos e doenças que internalizei. Nada era meu. Fui depósito de crenças. Valores que aprendi e não são meus. Tudo isso foi jogado na minha essência. E, ela, auxiliada pelo meu animal sagrado, tece a fertilidade de minha terra.
Levou tempo. Muitos eclipses ocorreram. Entretanto, por detrás e por baixo desse mundo diário, sob a luz do dia – que me fizeram acreditar ser o único real, existi um outro mundo profundo e denso, cheio de riquezas ocultas e mistérios – que contém meus potenciais a serem desenvolvidos. É nesse lugar macio e primitivo de meu ser que minha essência elabora a transformação. Nele não há relógio digital. Apenas existe a solicitude.
Nesse estado interno, existe o mapa invisível de meu caminho. Tal qual a planta depositada na terra boa. O alimento que absorvo vem desse mundo subterrâneo. Em sua escuridão, aprendo a olhar com os olhos da fé para minha alma. Em sua densidade, despejo os detritos de meus contatos com o mundo. Deixo nela o vírus inimigo. Para que lá seja exorcizado. Quanto mais constritos, mais sofrimentos. Na entrega, reside à sabedoria. Deixar-se moer dá ao grão de trigo a sublime tarefa de alimentar. Viver exige mais do que um moinho para esmigalhar nosso grão. Sentir o Amor, percebê-lo em seu peito, deixa-lo agir, permitir-se ser a taça por onde ele se derrama é a experiência mais enriquecedora. Compreender isso e que Ele (Amor) se instala em nós. E, Ele e não nossa razão que atua, escolhe, faz. A entrega da razão nesse momento significada a humildade em reconhecer que a minha razão não sabe, e reverencia conscientemente essa energia que tudo pode; tudo sabe; tudo vê. Sou o grão de areia e o mar da energia amorosa me penetra limpando, lavando minhas tristezas, meus julgamentos, meus temores até estar pronta para experenciar além de mim, transcender.
Ao colocar a planta no oitavo e último vaso, retorno serena de meus pensamentos. Aterriso transformada nessa realidade externa. Desbloqueei os canais. As folhagens são o único sinal de que viajei para meu interno. Exibem faceiras o gosto de terra nova a abrigar-lhes. A água que se derrama sobre elas desce límpida por entre a terra. Minha taça transborda a água vivificadora da alma. Sinto a energia do Amor agindo movimentando-se em cada átomo do meu ser. Limpa meus pensamentos, aprofunda meu sentir, aprendo nessa energia a acolher e nutrir o melhor em mim e no outro. Meu olhar agora se fixa, potencializa o positivo em mim e no outro. Vejo não mais com meus olhos externos, mas sim com os olhos internos assentados no Amor. Desta forma, nada em mim e no outro é para machucar. Toda a dor é apenas para mostrar a rudeza que precisa ser lapidada em nós. Mostra-nos a espessura da armadura que precisa ser derretida. Através da entrega, aprendo a confiar na energia que sinto.
Desse lugar de onde venho, resta-me uma pergunta: quantos vasos serão precisos experenciar para que o humano em nós possa reencontrar sua fertilidade amorosamente divina?

Sensações

- Sensações -



Da janela de minha alma, um querubin jeitosinho pede permissão para conduzir meu olhar ao lado de fora. A leveza de suas asas conduz meu ser à moldura amendoada de meu corpo. Permito-me o desligar da racionalidade. Confessa-me ser esta a senha para se transitar no altar dos deuses.

Fala-me das possibilidades desse campo de visão, como se fosse presente do Olimpo. Conta-me de seu mundo. De seu lugar sagrado. Seu código é musicalizado pelos sons de um acorde amoroso. Não parece com nada que conheço. A não ser por esta sensação de algo tão meu. Entendo as cócegas que essa linguagem provoca em meus ouvidos. E, a curiosidade da minha visão. Cochicha que em seu mundo as coisas são o que precisam ser. Cada um harmoniza-se com o todo sem delimitações/restrições. Encanta-me com sua simplicidade.

Seu convite é meigo, doce como o olhar de um deus. Para o passeio, impõe suas exigências. Pede o desnudar de máscaras. Encaro a proposta como capricho. Dou-lhe um sorriso e concedo. Manhoso, descobre meus pensamentos. Ri de minha ingenuidade. Brinca comigo. Despir-se é necessário. Fala, agora, de forma austera. Estranho e, ao mesmo tempo, compreendo. Deixo minhas expectativas de lado. Sei que necessito tirar o manto pesado de falsas certezas cotidianas para que o segredo, pelo qual vivo, se irradie em raios luminosos no mundo das sensações. Concedo-me o prazer de sentir sem julgar.

Sente minha alternância de atitude. Passa a me chamar Cristal. Não me surpreendo. Soa conhecido. Desperta algo. Como se invocasse por algum velho Xamã. Sigo. Pousa em meu ombro direito. Aponta-me para o horizonte. Nessa tela de um filme desconhecido, vislumbro matizes, sons, cheiros e uma incrível sensação de paz. Uma transmutação desvela meu ser. Sinto-me quente. Algo, em mim, queima. Chama de um fogo sagrado, transcendente. Meu corpo parece ceder lugar a sensações estrangeiras, torna-se território confiscado por um anjo maroto.

Entre meu ser e aquilo visto por meus olhos, há as sensações mediadoras. Como uma ponte. De um lado, o corpo. No outro, meus olhos. Na extensão, os nervos exibem um abismo de possibilidades. Tão reveladoras quantas as que vê em meus olhos. Minhas sensações. E eu, tola, tento negá-las. Como esconder a quentura da vela? Como disfarçar a chama da alma? Como abafar a sensação do corpo?

Percebo o suave toque das suas asas em meu ombro. Vejo que o anjo continua a invadir meus pensamentos. Não se assusta com o que vê. Não o censuro. Deixo que se instale comodamente na parede de minha memória. Pinte e borde com as cenas que ali vê. Não me importo com a invasão. No trajeto, descobrimos juntos o calabouço: esconderijo de minhas sensações. Lança uma luz a emoções e a desejos esbranquiçados pelo osso translúcido do tempo. Tal qual rebento, descobre trilhas secretas no útero das veias do sentimento, passa a desbravar o território desconhecido de minhas sensações. A verdade dói apenas àqueles que temem se descobrir no entulho de medos armazenados pelo lixo colhido do coletivo. Verdade: caça-jeito. Feito luz lunar assistida por estrelas cadentes de nossos desejos.

A paisagem se transforma. O pôr-do-sol seduz o olhar. Seu tom aquece as estrelas da paixão e cede sua luz ao espelho de sua imagem antagônica. Ao comando dessa, inúmeras partículas se acendem. Distantes, longínquas. Brilham em tonalidades diferentes. Vistas daqui assemelham-se ao brilho de um olhar. As sensações trancafiadas no calabouço pouco a pouco emergem. Instalam-se em meus nervos. Transitam ao sabor dos estímulos nervosos provocados pela visão. O querubim observa os efeitos dessa imagem em mim. Dirige sua atenção às minhas sensações.

Descubro, nessas trilhas abertas pelo anjo, que o caminho já existia. O mundo das sensações só se extingue na ilusão dos racionais. A chave do calabouço, apesar disso, existe para aqueles que se entregam despojadamente a sua verdade. Sentencia que sou responsável por esta redescoberta. Agora, que a trilha foi reencontrada, preciso demarcá-la para novas aventuras.

Suas fronteiras precisam ser conhecidas. E, sua magia: explorada. Com o meu território sagrado desvelado, aponta-me a responsabilidade da conexão entre ele e tudo que existe.

Ah, como é bom desligar-se do real. Ao funcionar no piloto-automático, permitimos o contato com este mundo sagrado das sensações que só os deuses - por não se pensarem - conhecem. Neste lugar aprende-se que as duas dimensões se fundem e coexistem. Queimo o incenso em agradecimento, e retorno a outra tão conhecida realidade.

Ser feliz é sintonizar-se com a alma do Grande Mistério. Requer tão pouco que os mortais desconfiam.
Essas tardes assim....

Hoje o dia iniciou normal. Relogio despertou, 06:15. Banho. Roupa. Café. Escova de dentes. Perfume. Cabelo. Enfim, pedi um taxi. Expliquei da necessidade de informar ao motorista que precisava de troco para vinte reais. Afinal, a corrida dá em torno de R$5,50. Pasmem: o taxi foi pedido 06:50, chegou 07:20. Graças a Deus chegou. Motorista muito educado. Expliquei onde ir. Entretanto, fez o pior caminho. Pra mim. Para ele, levou mais R$4,00. Entendi naquele momento que ali cada um estava olhando a partir do seu umbigo. Eu, querendo chegar logo. Ele, querendo uma corrida mais vantajosa. Poderia ter discutido, criado uma situação.Até porque expliquei por onde ir, E, ele se aproveitou (se isso é possivel) de minha distração com bolsa, celular, material. Fez o caminho que achou mais conveniente. Tudo isso passou em minha mente. Respirei fundo e resolvi assumir a responsabilidade da situação e não permitir que ela ditasse o meu dia, decidi aceitar que era o melhor que podia ter acontecido. Paguei o taxi e contribui com um real para o cafezinho do taxista, pois foi meu jeito de dizer a vida que estava legal. Olhei pro céu, percebi as nuvens o friozinho de outono. De-li-ci-o-so. Preferi essa sensação àquela do taxi. Segui a manhã. Que em um piscar de olhos passou a minha frente. Sem dar chance, de pensar muito. A rotina de um colégio não tem nada de rotina. É "na veia" como dizem meus "anjinhos" (alunos).



Sai do colégio por volta das 12:30, o olhar elevou-se ao céu que entre as nuvens de chuva mostrava um sol timido, mas intenso. Outras atividades aguardavam-me. Um café-almoço. Pessoas adoráveis. Dicas para o blog. Enfim, um bate-papo gostoso daqueles que você quer passar a tarde inteira, mas ... . Conformei-me pois se corria o risco de tomar-um-chá-de-banco, como dizia vovó, á tarde toda, pelo menos estaria acompanhada de alguém com quem tenho afinidades e o papo rola legal.



Perfeito. Ficamos duas horas e meia esperando para nos atenderem. Hehehe. Conversamos. Do trivial ao profundo. E percebi a impaciência das pessoas que esperavam como nós. Os chiliques de alguns por esperar. E me via ali. Calma. Conversando com alguém que admiro, confio, tendo de quebra o céu de Porto Alegre, visto do décimo andar, o vento de outono. De novo, percebi-me optando por ficar com aquela sensação de bem-estar, tendo consciência do mal estar a minha volta. Como disse mais acima, o tempo passou sem sofrimentos. Possibilitou-me um aprofundamento na relação de amizade, um compartilhar de coisas que considero tão significativas entre as pessoas. Quando fomos atendidos, constatamos a objetividade necessária daqueles que estão à frente de funções de comando. Além disso, o quanto somos uma pequena célula frente ao sistema todo. Saindo de lá, fomos ao tradicional lanchinho. E, mais bate-papo.



Ao retornar pra casa, solitária num banco da lotação, olhava pela janela o movimento, as pessoas e novamente o céu. O céu de final de tarde de outono. Lindo! O burburinho dos carros, o cansaço estampado nos rostos das pessoas - e provavelmente no meu - mas o céu continuava ali. Lindo. Encantador. Algumas músicas passaram pela mente. Cheguei a murmurar alguns sons. Encostei-me melhor no banco e fiquei admirando o céu, ouvindo as buzinas, as pessoas. Permite-me apenas sentir.



E, fui invadida por uma letra de música que ouvi tempos atrás do grupo Anjos de Resgate "Invade minha Alma, me ama e me acalma, me cura e me salva, tua intimidade quero conhecer, ... teu corpo, teu sangue me levam pro céu". Percebi aquecer minha Alma. Senti as asas do anjo maroto a envolver-me. Meus pensamentos viajaram no tempo, estacionaram em cenas gravadas com fogo nas paredes da memória, e percebi que o Amor apenas e tão somente É. (e ponto). Você não tem como dizê-lo, descrevê-lo .. enfim. Você Sente! Ele é a combustão, O transformador! Nenhum ser por ele visitado é o mesmo. Ele tem a capacidade de fazer a vida ter realmente cor. Ele toca tudo através de nós e torna tudo sagrado. Invadiu-me uma sensação de céu, de extase tão profundo que as-fichas-caíram e eu reles mortal curvei-me ao imponderável. O AMOR está em nós esperando que a gente dê a chance para que ele nos mostre o quanto absolutamente TUDO nesta vida é obra de sua ação. ABSOLUTAMENTE TUDO!!!



Minha absoluta reverência a esse SER chamado AMOR!! Hoje entendo mais um pouquinho do que São Francisco de Assis quis dizer quando falou aos seus companheiros " Eu AMO o AMOR". Neste dia que tinha tudo pra ser mais um cansativo dia, compreendi mais uma faceta da dádiva de AMAR. EU AMO O AMOR, SIIIIIMMMM! Sou sua eterna aprendiz! E digo SIMMMMM sempre a ele! E peço a Deus que sempre, sempre, sempre me ajude a estar aberta aos aprendizados. Minha gratidão....

Sacrifício: tornar sagrado o oficio



Dia desses a palavra “sacrifício” chamou minha atenção. Os contextos foram os mais variados. Decidi buscar o significado da palavra, pois a intuição me cutucava para uma bela lição. Lá fui eu ao ....dicionário. E, no Aurélio:


Sacrifício: 1. Ato ou efeito de sacrificar-(se);


2. privação de coisa apreciada;


3. renúncia em favor de outrem
Fui mais a fundo na pesquisa, cheguei à origem da palavra. E ela vem do latim sacro oficium , ou seja, “oficio sagrado”, quer dizer mais ou menos “tornar sagrado aquilo que se faz”, seja lá o que for. É ir além, é tocar o intocável. Não sei se consigo passar o que a intuição levou-me a pescar. Entendi porque muitas vezes atividades feitas, ou mesmo escolhas que fiz, tinham um “quê” diferente. Algumas vezes senti o peso do segundo significado da palavra, ou seja, a privação de algo apreciado fora maior do que o desejo inconsciente – naquele momento – de tornar o ato sagrado.

Percebi o quanto, nós mortais, na maioria das vezes, somos inconscientes do que fazemos, do por que fazemos e para que fazemos. Compreendem? Criamos nossa própria realidade a partir das escolhas feitas e a partir delas colhemos seus frutos.

Entretanto, inúmeras vezes a lamuria do quanto nos sacrificamos em prol de alguém, de uma situação, de uma causa e com isso estamos cobrando aquilo de que estamos sendo privados, quando na verdade deveríamos ser gratos pela oportunidade que nós mesmos criamos para tornar sagrado o que estamos fazendo. Afinal, nossa condição humana leva-nos a querer transcender essa condição. Mas, no momento, ao choramingar, como crianças mimadas, perdemos a chance e com ela o peso do ato torna-se realmente insuportável.

Entendi que em cada final de ciclo – e entenda-se aqui final de ciclo por etapas vivenciadas ao longo da vida – somos colocados em situações de “sacro oficium”. Situações essas que oportunizam a escolha do sacrificar-se em prol de algo maior ou não. E aqui o maior não tem a ver com grandioso, mas sim com algo de significação para nosso aprendizado. Algo que a própria Alma almeja alcançar, pois faz parte de sua trajetória.

Essa travessia é delicada, pois ao colocar o enfoque na privação somos levados ao peso da escolha, que nos leva ao medo, que nos leva a lamuria e a densificação (entenda-se materialização da energia negativa) do medo – muitas vezes cristalizado em doenças.

Agora, quando se consegue enfrentar com alegria e leveza o sacrifício, sem focar a privação nem o quanto isso nos pesa, alcançamos além do aprendizado a transcendência para um novo estágio de ensinamentos. Somos alçados a um novo patamar, onde somos eternos aprendizes. A humildade, nesse caso, é uma chave para abrir as portas que se encontram nesse novo estágio.

A vida tem mecanismos incríveis para nos conduzir, basta que estejamos alertas, dispostos ao aprendizado. Até uma palavra tão simples, dita inúmeras vezes inconscientemente, esconde ensinamentos.

Margarida Kröeff






CONSCIÊNCIA - Maria Madalena e o perfume precioso


Esse texto é uma pérola muito preciosa para mim. Quando li pela primeira vez, foi em um momento de profunda transformação, de nervo exposto. E, acredito que só pude entendê-lo na sua profundidade pelo processo que em mim estava ocorrendo. Compartilho com você leitor essa leitura. E, ressalto a parte do texto que mais me tocou,


Que possamos desenvolver o olhar do coração, o olhar do amor que realmente vê, pois é a sabedoria tão almejada. Entender que tudo que é feito de forma não qualificada é, na verdade, uma súplica da ausência do amor por amor. Que o AMOR preencha cada átomo de nossos corpos para que realmente possamos VER.

Deleitem-se com o texto......





"CONSCIÊNCIA...





A sociedade está continuamente lhe dizendo o que está certo e o que está errado. Chamam isso de consciência. Ela se fixa, fica implantada em você. E você fica repetindo isso. Mas isso não tem valor, não é verdadeiro. O que é verdadeiro é sua própria consciência. Ela não traz respostas predefinidas, sobre o que está certo e o que está errado. Mas, instantaneamente, em qualquer situação que surgir, ela lhe traz a luz, e você entende imediatamente o que deve ser feito.



MARIA MADALENA E O PERFUME PRECIOSO:





Jesus foi visitar a casa de Maria Madalena. Maria o amava profundamente. Ela verteu um vidro inteiro de um perfume muito precioso em seus pés. Era um perfume tão caro que poderia ter sido vendido. Judas reagiu imediatamente, dizendo: "Você deveria proibir as pessoas de fazer essas coisas sem sentido. O perfume ficará estragado e há pessoas pobres que não têm nem o que comer. Você poderia ter distribuído o dinheiro para os pobres." Jesus disse: "Não se preocupe com isso. Sempre haverá pobres e famintos, mas eu terei partido. Você pode servir a eles durante toda a sua vida, mas eu terei partido. Olhe o Amor e não o precioso perfume. Olhe para o Amor de Maria, para o seu coração."

Com quem você concorda? Jesus parece adotar uma postura muito burguesa e Judas parece perfeitamente econômico. Judas fala sobre os pobres, e Jesus diz apenas que ele partirá em breve, então Maria deve fazer o que seu coração deseja e Judas não deve interferir com seus pensamentos. em geral você irá concordar com Judas. Ele era um homem culto, sofisticado, um pensador. Entretanto cometeu uma traição, vendendo Jesus por trinta moedas de prata. Mas, quando Jesus foi crucificado, ele começou a se sentir culpado.

É assim que um homem bom funciona. Começou a se sentir culpado, sua consciência começou a perturbá-lo. Ele cometeu suicídio. Era um bom homem e tinha uma consciência. Mas não era consciencioso. Essa distinção precisa ser sentida bem a fundo. A consciência é emprestada, fornecida pela sociedade. A consciência é sua realização. A sociedade lhe ensina o que é certo e o que é errado: faça isso mas não aquilo. Goste disso por isso, não goste disso por aquilo. Ela lhe dá a moral, o código, as regras do jogo, as crenças, os padrões, os modelos de bom. belo, de masculino e de feminino. Essa é sua consciência. Do lado de fora, o policial, do lado de dentro, a consciência. É assim que a sociedade mantém controle sobre você. Judas tinha uma consciência, mas Jesus era conciencioso. Jesus estava mais preocupado com o amor da mulher, de Maria Madalena. em algo tão profundo que coibi-lo seria ferir seu amor, ela iria afundar dentro de si mesma. Verter o perfume nos pés de Jesus era apenas um gesto. Por trás dele, ela estava dizendo: "isso é tudo que eu tenho, a coisa mais preciosa que possuo. Verter água não seria o bastante, ela é barata demais. gostaria de verter meu coração, gostaria de verter todo o meu ser." Mas Judas tinha apenas sua consciência. Olhou para o perfume e disse: "Isso é caro." Estava completamente cego para a mulher e seu coração. O perfume é material, mas o amor é imaterial. Judas não conseguia ver o imaterial. Para isso, você precisa dos olhos de quem é consciencioso. Você precisa do olhar do amor. O olhar de dentro -do coração- que vê além do material. E vê além das ilusões. (OSHO, O livro da transformação - histórias e parábolas das grandes tradições para iluminar sua vida, Editora Sextante).