" Há algumas flores do amor que abrem só depois de longa intimidade." Osho

Beijo da Escrita


Eu escrevo como quem beija.
Um beijo longo, demorado, carinhoso.
Um beijo desses de língua.
A língua se movimenta lentamente
e me permite um gosto
ao mesmo tempo do outro
e de mim mesma.

Do outro que me encontra
neste texto
e do que há em mim que permite o encontro.


Eu escrevo como quem vive.
Assim, simples,
fazendo um texto de vida,
na vida.
Às vezes, penso,
afinal, que texto é esse que eu produzo?
Que vida é essa agenciada
pelo sabor das palavras compartilhadas,
sussurradas, como um afago?


Quem é esse outro que me encontra
e quem sou esse eu mesma que se expressa,
que se entrega...
nesse delicioso beijo de língua?
Nesse movimento que, afinal,
eu mesma provoco?
O gosto vem do meu movimento mesmo
associado ao movimento do outro.


Quando escrevo, eu me inscrevo.
Fica também o meu gosto
no gosto da língua do outro.
E isso me remete a não querer parar de escrever.Nunca.





domingo, 4 de julho de 2010

Máxima Canceriana: Lar, doce lar, não há lugar como meu lar!!!

CÂNCER
21 de junho a 22 de julho



"E, então Deus chamou Câncer...
"A ti Câncer, atribuo a tarefa de ensinar aos homens a emoção. Minha Idéia é que provoques neles risos e lágrimas, de modo que tudo o que eles vejam e sintam desenvolva uma plenitude desde dentro. Para isso, Eu te dou o Dom da Família, para que tua plenitude possa se multiplicar."
E Câncer voltou ao seu lugar."


Principal Característica: sentimento
Qualidades: empatia, sensibilidade
Defeitos: possessividade, apego ao passado, flutuabilidade
Elemento: Água
Qualidade: Cardeal
Polaridade: Receptivo
Planeta regente: Lua
Aqui nos deparamos com o elemento água, o grande aprendizado de nossas vidas, pois lidar com as emoções não é tarefa fácil como veremos nesse signo regido pela Lua. Câncer possui uma emocionalidade quase que irresistível e exige como principal tarefa de integração interior ou individuação a necessidade de resgatar a própria individualidade do regaço materno. Entretanto, nosso amigo terá que enfrentar a figura da Mãe Terrível para sair vitorioso. Há uma figura mitológica grega que parece representar mais de perto a Mãe Terrível que perpassa a vida de todo canceriano, seja homem ou mulher, a deusa Hera e o caranguejo que vivia no pântano da Hidra de Lerna, que nos remetem diretamente aos doze trabalhos de Hércules.

Enfrentar a Hidra, um monstro de muitas cabeças que habitava no pântano de Lerna, foi o segundo dos doze trabalhos que Hércules realizou, todos por inspiração direta de Hera, que o odiava mortalmente. Zeus se apaixonara por Alcmena, prometida de Anfitrião, rei de Tebas, e através dela resolvera dar a essa cidade grega um herói como jamais existira. Para isso, sabedor da fidelidade de Alcmena, “travestiu-se” de Anfitrião, que estava a guerrear, e teve com ela três noites de amor, engravidando-a de Hércules; a seguir, com o retorno do legítimo prometido e após ter se casado com ele, Alcmena engravidou de Íficles. Nasceram, assim, dois gêmeos.

Não feliz com isso, Zeus tramou a imortalidade de seu filho mortal preferido: adormecendo Hera, fez com que a criança sugasse o seio da deusa. A despeito de a deusa ter acordado e repelido Hércules, borrifando longe o próprio leite e dando origem, com isso, à Via Láctea, o menino tornara-se imortal. E isso, Hera nunca perdoou...

Lançou contra Hércules a maldição da raiva e da demência, e ele acabou por matar os próprios filhos e a esposa: a seguir, já lúcido, Hércules consultou o oráculo de Delfos sobre como expiar tão bárbaro crime, recebendo como resposta a servidão ao primo Euristeu. E este, por sua vez, sob o mando de Hera, deu-lhe como tarefa os doze trabalhos (dos quais se supunha não sairia vencedor), entre os quais o enfrentamento da Hidra de Lerna.

Na verdade, os doze trabalhos representam a longa série de tarefas que o Herói terá de executar a contento para, depois de todas, renascer um homem novo. ( Lembram do que Cristo falou: aquele que não nascer de novo...)

Simbolicamente, segundo o mitólogo francês Paul Diel: “as múltiplas cabeças do monstro de corpo de serpente configuram os vícios múltiplos, nos quais se prolonga o corpo da perversão, a vaidade. Vivendo num pântano, a Hidra é particularmente caracterizada como símbolo dos vícios banais. Enquanto o monstro viver, enquanto a vaidade não for dominada, as cabeças, símbolos dos vícios, renascerão, mesmo que por uma vitória passageira se consiga cortar uma ou outra. Para vencer o monstro, Hércules usa a espada, arma de combate espiritual, conjugada com o archote, que cauteriza as feridas, a fim de que, uma vez cortadas, as cabeças não possam mais renascer. O archote simboliza a purificação sublime.”

Acontece que – e aqui encontramos o nosso crustáceo – no pântano de Lerna habitava um imenso caranguejo, enviado por Hera, o investiu contra Hércules pelas costas (uma manobra canceriana característica) no momento mesmo em que ele enfrentava a Hidra, “pinçando-o” pelas ancas e pelos pés. O Herói conseguiu matá-lo e, em seguida, derrotar a Hidra.

O episódio nos mostra a raiva da matriarca contra a possibilidade de independência e identidade individual de sua criatura; daí a batalha pra livrar-se da mãe ser tão constante na vida dos cancerianos – uma batalha que sempre parece maior do que é realmente, uma vez que a figura materna representa, para o inconsciente mais profundo do canceriano, a unidade ourobórica toda-poderosa que detém os destinos de si mesma e de cada elemento da criação.

Na vida do canceriano (tanto homem quanto mulher), o pai está com freqüência ausente ( viagens, serviço, etc..) e a mãe é percebida como o único pólo de poder no lar, razão pela qual a criança mal consegue apropriar-se do em geral grande poder criativo paterno – para o menino isso é perigoso, pois a figura paterna fica ofuscada pelo animus gigantesco da mãe, na óptica da criança; mais ainda: não raro a mãe da menina canceriana disputa com ela a primazia pelo poder feminino no lar, obrigando-a a “ocultar-se de si mesma”.

Assim, essa vivência infantil e aquele padrão mítico emprestam à mãe uma dimensão que ela muitas vezes não possui, o que explica o “complexo materno” encontrado no canceriano (seja ele homem ou mulher): a cada nova relação vem à tona a busca do “útero materno”, a busca de quem “cuide” dele, com a manifestação de comportamentos infantilizados que se chocam contra a aparente liberdade realizadora da pessoa – ao fim e ao cabo, ela está em busca de libertar-se do pesado sentimento de isolamento e separatividade que representou a saída do útero, mas tentando sempre retornar a ele...

Muitas vezes esse padrão duplo – o monstro sendo enfrentado e o caranguejo desestabilizando por trás – é vivido projetivamente e encontramos a relação típica na qual o parceiro, ao mesmo tempo em que parece apoiar as tarefas de crescimento do canceriano, “sabota-o” pelas costas nos momentos mais difíceis. Ou vice-versa.

Entretanto, temos de nos aproximar também de outras figuras mitológicas para ampliar o entendimento do profundo substrato mítico de Câncer; para isso, devemos ver de perto o escaravelho sagrado egípcio e a deusa grega Tétis, deusa dos mares e oceanos, de onde toda a vida surgiu.

O escaravelho, que já ocupou o lugar do caranguejo neste signo do Zodíaco (assim como a Águia fora o símbolo mais antigo do signo de Escorpião), era considerado símbolo da perpetuidade da vida pelos egípcios, dado o fato aparente de “renascer” de uma bolinha de terra. Na verdade, eram pequenas bolas de terra e esterco, nas quais o inseto depositava suas larvas, que cresciam com o calor da fermentação do esterco. O fato de o escaravelho rolar a bola de um lado para outro, “após o que a vida surgia”, implicou a comparação com a passagem do círculo solar de um lado para o outro do horizonte sua imediata associação com o deus Sol egípcio, “pai” de toda criação.

A outra figura mitológica, Tétis, parece explicar diretamente a capacidade canceriana muito comumente encontrada no canceriano de representar as imagens do inconsciente coletivo de maneira criativa. A deusa, que havia recebido a profecia de que um filho seu seria muito maior do que qualquer deus, foi impedida por Zeus de desposar uma divindade: ela só poderia ter como esposo um mortal, homem comum. Em outras palavras, somente depois de ter aprendido a canalizar através do Ego seus imensos poderes de criação e transformação, próprios de seu interior inconsciente oceânico, é que o canceriano se realizara, Porque Tétis nos aproxima mais uma vez da Mãe Terrível.

De Peleu, Tétis concebeu Aquiles, o grande herói da Guerra de Tróia. Para impedir que Aquiles se expusesse a essa guerra, Tétis vestiu-o de mulher, pois havia a profecia de que Aquiles teria uma vida curta e cheia de glórias ou uma vida longa mas inglória: Tétis, Mãe Terrível, preferiu a segunda hipótese. E, assim, às vezes, o canceriano prefere ficar no colo da mãe em vez de libertar seu imenso potencial criativo; outras vezes, fica à espera de que alguém venha realizar projetivamente o seu próprio potencial.

Por isso, a separação da mãe é sempre um enorme rito de passagem na vida do canceriano, marcando definitivamente seu segundo nascimento e, talvez, o primeiro de sua real individualidade. Mas enquanto não for feito, assim como Aquiles o fez e ganhou imortalidade ao morrer na batalha decisiva da Guerra de Tróia, o canceriano continua a buscar o útero do qual foi separado – mantendo-se impedido, dessa forma, de transcender essa busca e aproximar-se dos dons efetivos de criatividade que herdou do Pai Divino.

Este signo domina a quarta casa do mandala zodiacal, que representa o fundo do céu, ou como gosto de chamar nossa âncora – a bagagem dessa e de outras vidas, ali estão as informações referentes a nós. Também essa casa remete-nos à parte mais obscura de nós mesmos. Muitas das informações que ali estão fazemos questão de esconder, fugir. Situações, ações que forjaram nossa criança, tornando-a mimada, abandonada, rejeitada, violentada, etc. Visitar essas informações, lembranças é olhar para nossas feridas, nossas chagas que determinam em nosso presente as nossas ações, reações. Entretanto, passar por esses escombros leva-nos a encontrar o valioso em nós, que está perdido lá, esperando pelo resgate. E o valioso, o mais importante é resgatar nossa capacidade de sentir, de acreditar, buscar nossa inocência perdida para a partir dela reconstruir nossa história. Junto com ela estará a nossa verdadeira capacidade de sentir tudo. É uma jornada e tanto. Cheia de emoções, de sustos, suspiros, choros. Ao final dessa aventura, encontraremos o pote de ouro: nossa inocência!

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