" Há algumas flores do amor que abrem só depois de longa intimidade." Osho

Beijo da Escrita


Eu escrevo como quem beija.
Um beijo longo, demorado, carinhoso.
Um beijo desses de língua.
A língua se movimenta lentamente
e me permite um gosto
ao mesmo tempo do outro
e de mim mesma.

Do outro que me encontra
neste texto
e do que há em mim que permite o encontro.


Eu escrevo como quem vive.
Assim, simples,
fazendo um texto de vida,
na vida.
Às vezes, penso,
afinal, que texto é esse que eu produzo?
Que vida é essa agenciada
pelo sabor das palavras compartilhadas,
sussurradas, como um afago?


Quem é esse outro que me encontra
e quem sou esse eu mesma que se expressa,
que se entrega...
nesse delicioso beijo de língua?
Nesse movimento que, afinal,
eu mesma provoco?
O gosto vem do meu movimento mesmo
associado ao movimento do outro.


Quando escrevo, eu me inscrevo.
Fica também o meu gosto
no gosto da língua do outro.
E isso me remete a não querer parar de escrever.Nunca.





Beijo-da-Escrita no Tarôt Mitológico.

Tarô Mitológico
- em busca da cura interior –

"Logo que confiar em si mesmo,saberá como viver." Goethe


Um dos caminhos do autoconhecimento pode ser o do estudo do tarô. Mais do que um jogo, é uma viagem de reconhecimento de nossa origem divina e também do entendimento de tudo que está ao nosso redor.A famosa inscrição “Conhece-te a ti mesmo”, na porta do templo de Apolo, em Delfos, lembra-nos a importância do autoconhecimento que implica, necessariamente, no conhecimento dos ciclos atuantes no homem e dos seus complexos impulsos e instintos. Portanto, o autoconhecimento é um convite para uma viagem dentro de nós. Em nossas emoções, em nossos pensamentos, fantasias, ambições, nosso sentir, nosso corpo!
Dentro de nossa complexidade humana perdemos o referencial divino de quem somos. Por isso, em vez de um guia turístico, um mapa, bússola precisamos nesta viagem de um referencial muito mais psiquico. E este referencial varia de indivíduo para individuo, de momento a momento. Isso significa que aquilo que funcionou para mim pode não funcionar para o outro. Não é o seu momento, não é a sua linguagem, entretanto, não invalida o referencial. Há inúmeros caminhos para trilharmos o autoconhecimento. O tarô mitológico é um deles. Vejamos como e por quê.
O tarô está dividido em Arcanos Maiores e Arcanos Menores. Os primeiros dizem respeito a 22 cartas que relatam o mito de 22 deuses gregos. As cartas referentes aos Arcanos Menores correspondem aos naipes do baralho comum e em cada um dos naipes encontra-se o desenrolar de um mito. Assim, o naipe de ouros corresponde ao elemento terra, portanto, retrata as experiências na máteria e conta-nos o mito de Dédalo; o naipe de espadas corresponde ao elemento ar, assim relata as experiências da mente, o seu desenvolvimento através do mito de Orestes; já o naipe de paus representa o elemento fogo e retrata as experiências da imaginação através do relato do mito de Jasão e os Argonautas; o naipe de copas conta a história de Psique e Eros, relatando o nosso crescimento afetivo.
Já nos Arcanos Maiores conhecemos arquétipos que habitam o inconsciente coletivo e se manifestam em diferentes matizes, mas sempre com a mesma essencia. E, todos nós encontramo-nos mais cedo ou mais tarde com esses arcanos. Não é raro depararmo-nos inúmeras vezes com essas figuras, pois a cada encontro aprofundamos um pouco mais.
Ë importante definir o que seja mito e arquétipo. O mito é o relato de uma história verdadeira, ocorrida nos primeiros tempos quando, com a interferência de entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir. Esta realidade pode se referir a uma pedra, um monte, uma espécie vegetal ou animal ou um comportamento humano. O mito é sempre uma representação coletiva e relata uma explicação do mundo. Na medida em que o mito pretende explicar a complexidade do real, ele não é lógico, mas ilógico e irracional. Presta-se a inúmeras interpretações. A palavra ‘religião’ vem do latim religione ( verbo religare) ação de ligar. Conjunto de atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se liga ao divino. Para os antigos, religião é a ritualização (reatualização) do mito. Rito, portanto, é conhecer a praxis do mito, é o mito em ação!
Para Walter Burkert, em seu livro Mito e Mitologia da Edições 70, ltda, “conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das coisas e também onde as encontrar e como fazê-las ressurgir quando desaparecem. O homem, através do mito, adquire a possibilidade de fazer “um recuo no tempo”, ora, o regresso individual à origem é encarado como uma possibilidade de renovar e regenerar a existência daquele que o executa.”
Já Carl Gustav Jung, em seu livro O homem e seus símbolos, o mito serve à uma conscientização dos arquétipos do inconsciente coletivo, bem como às formas através das quais o inconsciente se manifesta. Os conteúdos do inconsciente pessoal são aquisições da existência individual, ao passo que os conteúdos do inconsciente coletivo são arquétipos que existem sempre e a priori.
Portanto, aliando os dois autores ouso afirmar que, ao conhecer os mitos, descubro os segredos da própria existência e manifestação. Pode parecer simplista, mas para aqueles que já encontraram o seu caminho concordam que a simplicidade é a primeira virtude a ser descoberta. Os mitos aliam o lúdico, o simbólico, o psicológico a nossa praxis. Reconhecemo-nos em seu simbolismo e psiquismo.
Quanto ao arquétipo, Jung afirma ao expor o papel destes que: “.. em cada psique há prontidões vivas, formas que, embora inconscientes, não são menos ativas, e que moldam de antemão e influenciam o seu pensar, sentir e atuar. ...O inconsciente é a matriz de todas as afirmações metafísicas, de toda mitologia e de toda filosofia – enquanto não sejam puramente críticas – e de todas as expressões da vida fundadas sobre premissas psíquicas. O arquétipo é um órgão psíquico presente em cada um de nós, um fator vital para a economia psíquica.
Portanto, o estudo dos Arcanos Maiores, assim como estão dispostos no tarô, funciona como uma perigrinação ao templo sagrado de nós mesmos. Nesta viagem cada carta/mito funciona como uma parada, um reconhecimento de alguma parte nossa. Durante a jornada, algumas cartas/mitos podem dizer mais do que outras. Há aquelas que nos incomodam, por não entendê-las ou não reconhecê-las ( e as vezes pelas duas coisas – afinal, é difícil aceitar a própria lama ou virtude). O importante é se dispor a viagem, ao estudo. Sentir o convite interno para jornada e a ela se por.
A garantia que se pode dar é que você jamais será a mesma pessoa depois de encarar e vivenciar esses arquétipos, pois por mais tênue que seja a mudança ela frutificará. Segue abaixo uma sintese das cartas dos Arcanos Maiores.
O Louco: somos nós, na medida em que ele emerge da escuridão da caverna maternal e se lança no desconhecido
Pais conhecidos: As cartas da Imperatrize do Imperador
Os pais interiores do Espírito e da imaginação:As cartas da Sacerdotiza e Hierofante, O Mago
Conflitos e Paixões: Cartas dos Enamorados e do Carro
Tribunais da vida(julgamentos e decisões:
Cartas da Justiça,Temperança, Força e Eremita
Crises, Perdas Súbitas mudanças: As cartas da Roda da Fortuna,do enforcado e da Morte
Confronto consigo mesmo na qualidade de arquiteto de sua própria vida:As cartas do Diabo e da Torre.
Esperança:As cartas da Estrela, da Lua e do Sol.
Reconciliação com a vida, Luz vence a escuridão:
As cartas do Julgamento e do Mundo


Margarida M. Kröeff

Um comentário:

  1. Este artigo é, realmente, um dos mais deliciosos que já li sobre o tema. Já disse isso, mas em determinados momentos vale a pena repetir elogios e reverenciar a sabedoria por traz das palavras.

    Obrigada por existir e dividir um pouco da sua cmainhada!

    Abençoada seja por Afrodite, Atena, Artemis, Hécate, Hera, e todas as Mães do mundo!

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