LEÃO
22 de julho a 21 de agosto
"E, então Deus chamou Leão...
"A ti Leão, atribuo a tarefa de exibir ao mundo Minha Criação em todo o seu esplendor. Mas deves ter cuidado com o orgulho, e sempre lembrar que é Minha Criação, e não tua. Se o esqueceres, serás desprezado pelos homens. Há muita alegria em teu trabalho; basta fazê-lo bem. Para isso Eu te concedo o Dom da Honra."
E Leão voltou ao seu lugar.
Principal Característica: alegriaQualidades: dignidade, generosidade, extroversão.
Defeitos: egocentrismo, autoritarismo, teimosia, orgulho
Elemento: Fogo
Qualidade: Fixo
Polaridade: Ativo
Planeta Regente: Sol
Antes de tudo, um registro importante: o signo de Leão é regido pelo Sol, o que nos aproxima imediatamente da figura do pai (o Sol é o principal símbolo paterno na carta astrológica natal) e nos remete à noção de criatividade infinita – como aliás o permite o próprio Sol no desenvolvimento da vida terrestre e humana.
Nesse sentido, temos figuras leoninas perpassando toda a história mitológica da Humanidade. Para os egípcios, a deusa solar Sekmet, com cabeça de leoa, era responsável 9com seus rugidos) por provocar sulcos na terra, no verão, de onde germinavam as plantas entre elas o papiro e o trigo; para os hindus, Krishna era o Leão; para a cultura do Extremo Oriente, Buda era o Leão dos Sákia; na cultura judeu-cristã Cristo era o Leão de Judá; para os muçulmanos, o leão de Alá era Ali, genro de Maomé. Como registra Junito Brandão, “poderoso e soberano, símbolo solar e extremamente luminoso, o rei dos animais possui em alto grau as qualidades e os defeitos inerentes à sua espécie. Encarnação do Poder, da Sabedoria e da Justiça, deixa-se arrastar, em contrapartida, pelo escesso de orgulho e segurança, que lhe conferem uma imagem de Pai, Senhor e Soberano. Ofuscado pelo próprio poder, cegado pela própria luz, torna-se tirano, acreditando-se um protetor. Pode ser maravilhoso, tanto quanto insuportável: nessa polaridade oscilam suas múltiplas acepções simbólicas.”
O tema leonino, assim como o ariano, parece centrar-se na figura parental paterna. Isto é, na batalho do Herói contra seu pai ou do filho que busca a própria identidade através do embate com a figura paterna, utilizando os próprios recursos. Embate esse que, ao contrário dos signos que têm a figura do Pai como centro de seu mito, terá de ser vencido através da aproximação e do amor, e não das armas: somente assim o Herói conquistará seus valores espirituais (sempre frutos do Pai) e atingirá a transpessoalidade tão desejada.
Assim duas figuras distintas, uma da Grécia antiga e outra da Europa medieval, nos transportam ao núcleo mítico do leonino: o mito do Leão de Neméia e a lenda de Persifal e o Santo Graal.
A morte do Leão de Neméia foi o primeiro dos doze trabalhos de Hércules. Esse leão, criado pela deusa lunar Selene ou pela própria deusa Hera, vivia numa caverna de duas bocas durante o dia, saindo à noite para aterrorizar os bosques da Neméia, cidade da região grega da Arególida, devorando os rebanhos que lá pastavam. Era relativamente invulnerável, pois Hera o dotara de tais poderes contra flechas, maças, lanças e tacapes, que tais armas nem sequer lhe arranhavam o pelo!
Hércules foi à Neméia e enfrentou o leão em frente de sua própria caverna; num primeiro momento, esquecido da invulnerabilidade do animal, atirou-lhe flechas: nada aconteceu, senão assustar o animal, que se refugiou na caverna. Então Hércules entrou nu e desarmado no covil da fera, munido apenas de um archote para iluminar-lhe o caminho e, ao enfrentar corpo a corpo o animal, sufocou-o pela garganta com as próprias mãos. A seguir, retirou-lhe a pele e com ela fez uma vestimenta protetora, fazendo de sua cabeça um capacete.
A briga de homens contra animais é uma das mais antigas imagens míticas arquetípicas, sendo no seu sentido mais amplo a luta do Ego humano contra os instintos e impulsos impessoais que provêm do inconsciente; dessa batalha é que se definirá sempre o caminho da individuação e conquista de identidade da própria pessoa. Dessa vez, entretanto, trata-se de um fera destrutiva, pelos fortes impulsos emocionais de que é portadora, e não mais de um crustáceo de sangue frio e “sem paixões”, provindo dos reinos do inconsciente profundo, como vimos no caso do nosso canceriano no mês passado.
O leão é uma fera domesticável e não somente vencível através da destruição: corresponde às paixões do coração, que ficam a serviço de seu possuidor depois de humanizadas, como hércules utilizou a pele do Leão da Neméia a seu favor após a vitória.
Como diz Jung no estudo da simbologia deste animal, “ a forma animal enfatiza que o ‘rei’ é poderoso demais ou está revestido por seu lado animal e que, em conseqüência, se expressa apenas ‘animalescamente’, isto é, de forma apenas emocional, Emocionalidade, quando no sentido de afetos incontroláveis, é essencialmente animal, razão pela qual pessoas nesse estágio são tratadas apenas com o cuidado próprio de quem anda na selva ou com os métodos que o treinador de animais utiliza em seu trabalho”.
Em outras palavras: com muito cuidado ou com a dupla “chicote-torrão de açúcar”...
E é isso o que se verifica na vida dos leoninos: exposto ao convívio com um pai exvessivamente “ético” e “justo”, o leonino desde cedo vê punidas com severidade todas as suas fortes reações emocionais e premiadas em excesso suas manifestações de comportamento ético e justo. Sacrifica-se no altar do perfeccionismo, o que explica sua constante busca pelo “melhor”, e não vive a sensação de ser amado pelo que é – mas sempre, apenas, pelo “muito bom” que será capaz de produzir. Dessa forma, suas emoções são mantidas no inconsciente e se rornam verdadeiras paixões arrebatadoras e autônomas que dominam a consciência e o comportamento, sendo colocadas a serviço de quaisquer novas causas.
Entretanto, conhecer e “dominar” as próprias paixões (sempre uma vivência juvenil das emoções) é passo fundamental no processo de resgate do que de mais elevado vem do pai: o alto idealismo, cuja manifestação “torta” é a compulsão perfeccionista, e a sensibilidade ética à justiça, cuja vivência compulsiva é a rigidez de padrões de convívio pessoal. Daí conviverem os três no coração do leonino, enquanto estiver em sua fase menos madura: o idealismo exacerbado, o perfeccionismo implacável e a preocupação ética em demasia.
Mas o leão é a fase do processo e por isso Jung o associou à figura de Mercúrio no processo alquímico de transformação de matéria-prima bruta em ouro, à medida que a pessoa enfrente suas paixões no fundo da própria caverna, somente com os recursos de que dispõe, e que as coloque a seu serviço de maneira humanizada, isto é, em acordo com seu Ego – razão pela qual muitos reis portavam uma coroa em forma de leão, ou adornavam seu trono e estandarte com o animal: apenas quem conseguiu dominar as próprias paixões pode governar homens, ao oferecer-se enquanto exemplo.
Mas (e no caso do leonino isso é mais evidente ainda, dado o acúmulo de soberba e “orgulho” desenvolvido como compensação à rejeição paterna na infância) essa transformação só poderá se dar através do amor e da compaixão, depois de ter aprendido a se aceitar como se é e a se amar pelo que se é, o que nos remete a Parsifal e à lenda do Santo Graal, no primeiro século do milênio passado.
Von Eischenbach, poeta germânico da Alta Idade Média, escreveu Parsifal (obra que futuramente inspirou o compositor Wagner para uma ópera com o mesmo nome), descrevendo as peripécias de um jovem que busca encontrar o Santo Graal; esse Graal, supostamente o cálice no qual José de Arimatéia recolheu o sangue de Cristo durante o seu suplicio na cruz, estava perdido, e todos os cavaleiros e nobres lutavam por encontra-lo. Faz parte desse ciclo de lendas o mito de Artur, rei da Távola Redonda e unificador da Bretanha.
Conta essa história que estava Parsifal brincando no bosque perto da casa onde vivia com sua mãe (portanto, ainda sem pai), quando dele se aproximaram alguns cavaleiros reais que estavam em busca do Graal. Pasifal imediatamente quis reunir-se a eles em sua buscae comunicou a decisão à mãe; esta quis impedi-lo, mas Parsifal, por ter sua vida ligada ao alcance de um ideal e não à mãe, partiu assim mesmo. Essa partida provocou a morte dela, por tristeza, o que parece estar presente (muitas vezes de forma simbólica) no rito de iniciação de quase todo leonino.
Segundo os cavaleiros, Parsifal defrontou-se (sem nenhuma razão aparente) com um Cavaleiro Vermelho, o derrotou e passou a usar sua armadura (como Hércules fez com a pele do leão), sagrando-se cavaleiro. A seguir, ajudou uma jovem a atravessar um rio e dela recebeu, como prêmio, um anel: sem dúvida, dada a simbologia da cena, iniciava-se sexualmente. E um pouco adiante, sem esperar, deparou-se com uma enorme extensão de água, no meio da qual um velho pescava, mas sobre a qual não se via nenhuma ponte ou forma de travessia. Questionado por Parsifal se ali seria o fim de todos os caminhos, o velho pescador indicou-lhe o caminho para o Castelo do Graal, até então algo completamente desconhecido por Parsifal.
Para chegar ao castelo, Parsifal atravessou uma larga faixa de terra que, mesmo fértil, estava completamente devastada e improdutiva. Logo que chegou ao castelo, Parsifal compreendeu: seu rei, que na verdade era o mesmo pescador que encontrara antes, tinha sido ferido na altura do fígado (simbolicamente associado a Júpiter, ou Zeus, e sua capacidade de mobilizar poder criativo) e era perpetuamente mantido assim. Naquela tarde, como em todas as tardes, quatro escravas (uma com uma espada, outra com um cálice dourado, uma terceira com uma bandeja prateada e a quarta com um lança) entraram na sala onde o rei estava e enterraram profundamente a lança na ferida do rei, tornando a machucar seu núcleo de poder criativo e impedindo-o de reavivar sua terra.
Parsifal observou a estranha cerimônia mas, pouco se importando com o sentido nela implícito ou com a continua dor do rei, foi dormir. Ao acordar, o castelo estava deserto e Parsifal encontrou um velha mulher, que lhe disse que se tivesse perguntado “ Para que o Graal serve?”, concoído da sorte do velho rei, teria imediatamente curado sua ferido e ao mesmo tempo dado vida nova à terra desolada. Mas perdido na própria busca e cheio de orgulho que ela lhe provocava, não o pudera fazer. Parsifal saiu do castelo, este desapareceu e só reapareceria quando ele tivesse a necessária maturidade e compaixão para fazer a pergunta redentora.
A história prossegue e, depois de muitas aventuras, durante as quais Parsifal vai desenvolvendo a própria capacidade de compaixão e perdendo sua soberba, por fim o castelo reaparece e a pergunta é feita. Imediatamente o velho rei fica curado, a terra começa a produzir e o rei informa a Parsifal ser seu avô. Com isso o Castelo do Graal é entregue aos cuidados de Parsifal, que reencontra o pai – mas agora um pai mais antigo, gerador do próprio pai de Parsifal, e não apenas o pai carnal de quem se perdera na infância.
Em outras palavras, o Self, símbolo do pai, motivo pelo qual o leonino se bate tanto para encontrar a verdade! Não mais o pai do ariano, que deve ser vencido pela confrontação direta, nem o pai do capricorniano, que será vencido através da descoberta dos limites da realidade que não soube oferecer ao filho, mas o pai que é fonte de criatividade e só estava à espera de ser redimido pelo próprio filho – o qual, por sua vez, poderá faze-lo apenas ao aprender a se condoer e a expor as condições mais simplesmente humanas que carrega dentro de si mesmo, para poder realizar toda a criatividade de que é potencialmente capaz.
Seja o Graal o que for – a causa defendida, a busca de espiritualidade ou algum objetivo pessoal -, ele está sempre à frente do impulso leonino de busca, atraindo-o irresistivelmente. Que o leonino não deixe de reconhecer suas qualidades mais humanas – emoções – na defesa irrestrita dessa causa, na busca incansável dessa espiritualidade ou na consecução denodada desse objetivo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário