" Há algumas flores do amor que abrem só depois de longa intimidade." Osho

Beijo da Escrita


Eu escrevo como quem beija.
Um beijo longo, demorado, carinhoso.
Um beijo desses de língua.
A língua se movimenta lentamente
e me permite um gosto
ao mesmo tempo do outro
e de mim mesma.

Do outro que me encontra
neste texto
e do que há em mim que permite o encontro.


Eu escrevo como quem vive.
Assim, simples,
fazendo um texto de vida,
na vida.
Às vezes, penso,
afinal, que texto é esse que eu produzo?
Que vida é essa agenciada
pelo sabor das palavras compartilhadas,
sussurradas, como um afago?


Quem é esse outro que me encontra
e quem sou esse eu mesma que se expressa,
que se entrega...
nesse delicioso beijo de língua?
Nesse movimento que, afinal,
eu mesma provoco?
O gosto vem do meu movimento mesmo
associado ao movimento do outro.


Quando escrevo, eu me inscrevo.
Fica também o meu gosto
no gosto da língua do outro.
E isso me remete a não querer parar de escrever.Nunca.





quarta-feira, 21 de abril de 2010

Aprender

“O caderno é uma metáfora da vida,Quando os erros cometidos eram demais, eu me recordo,
Que a nossa professora nos sugeria que a gente virasse a página.
Era um jeito interessante de descobrir a graça que há nos recomeços.
Ao virar a página, os erros cometidos deixavam de nos incomodar e a partir deles,
A gente seguia um pouco mais crescido.
O caderno nos ensina que erros não precisam ser fontes de castigos.
Erros podem ser fontes de virtudes!
Na vida é a mesma coisa, o erro tem que estar à serviço do aprendizado;
Ele não tem que ser fonte de culpas e vergonhas.
Nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande
sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida.
Uma coisa é a gente se arrepender do que fez! Outra coisa é a gente se sentir culpado.
Culpas nos paralisam. Arrependimentos não!
Eles nos lançam pra frente, nos ajudam a corrigir os erros cometidos.” (Fábio de Melo)

Há dias penso a respeito de como somos educados, como aprendemos, e como adquirimos nossos conhecimentos nas mais variadas áreas de nossos interesses e atuação. E, justamente, num desses dias o texto acima que se encontra na música O caderno, no cd Vida do Padre Fábio de Melo, veio parar em minhas mãos. Encantei-me com a simplicidade e com a veracidade do texto. Tão simples; tão profundo. Pena que essa simplicidade e ensinamento tão profundos nem sempre faça parte da forma como aprendemos. Entendem? Como ainda, em nossa fase adulta, escamoteamos nossos erros, os evitamos, nos desculpamos, não nos responsabilizamos, e principalmente temos medo, vergonha, culpa de enfrentarmos nossos sentimentos, nossas emoções frente aos nossos atos. É difícil crescer, emocionalmente em responsabilidade, quando evitamos o confronto mais simples: o com nosso eu idealizado!

A energia de Touro neste mês traz a possibilidade de trazer para a matéria, a concretização daquilo que desejamos. E, eu pessoalmente desejo que cada um de nós torne seu aprendizado mais leve, já que muitas vezes a lição a ser aprendida é pesada. Tornar algo leve depende do ponto de vista de onde olhamos a situação. Se nos sentirmos culpados, com vergonha, ou com medo certamente a lição não será vista na sua totalidade. E, nosso tempo está passando. Precisamos enfrentar com clareza nossas mazelas. E, não como crianças mimadas, ou amedrontadas. Discernir que o importante é o aprendizado. E cada um tem uma forma de aprender. Portanto, a vida nos trará situações dentro dessa nossa capacidade. Quantos de nós conseguimos entender um “não” da primeira vez que ele se apresenta? Quantos de nós conseguimos aceitar nossos erros e não fazer dramas em cima? Entendem: a simplicidade da vida exige de cada um que administre com muita maturidade suas situações. Essa é a lição. Certa vez li algo mais ou menos assim “o importante é o processo não o resultado”, pois é durante o processo que somos lapidados, modificados.

Devemos aproveitar a energia desse mês para nos colocar em sintonia com o que há de melhor em nós e permitir que essa energia traga até nós as lições necessárias para a lapidação de nosso ser. Sentir gratidão por que seja lá o que for que aparecer a nossa frente é o nosso quinhão. Não ter medo, não ter vergonha, nem sentir culpa do que quer que seja, pois somos o resultado de tudo que já passamos e vivemos. Temos no hoje a oportunidade do melhor presente: construir o nosso futuro. Mãos a obra!! Nas quedas leia a mensagem lá de cima. Força.... e Fé na jornada! A melhor lição está por vir.



A taça

A taça
Da jarra da minha existência, despeja-se a água que enche as taças de meus dias. O mineral líquido é sorvido naquelas que eu mesma escolho. Apesar da pureza da água independer da qualidade da taça, esta influencia sobremaneira no sabor daquela.
Embora o sol teimasse em brilhar, acordei com a sensação de água barrenta na boca. O gosto-cheiro-de-terra-molhada instalou-se em minha língua. Preencheu minhas rodovias internas. Desde o bom-dia até sonhe-com-os-anjos. Tudo tinha aquele gosto. Não é de minha natureza escamotear as sensações que vivencio. Entretanto, tentava disfarçar a água-barrenta que me invadia. Talvez por saber instintivamente que ela estivesse dentro de mim. É difícil aceitar a própria lama.
Decidi, influenciada por meu estado, mexer nos vasos. Comprar a terra boa. Forrei a mesa com jornal. Comecei o processo depurativo. Gosto desse tipo de tarefa. Artesanal. Esqueci dos compromissos e passei a dedicar-me às folhagens. Com cuidado, tirei a planta do primeiro vaso. Coloquei-o na mesa. Retirei a terra que a pouco a envolvia. Percebi a secura. Do corte no plástico, o aroma orgânico invadiu o ambiente. Feito café passado.
Depositei no vaso a nova terra. Ao pegá-la, notei a sua fofura. A sensação de mexê-la, fazer cuidadosamente o buraco para abrigar as raízes, trouxe-me um sentimento de alívio. Processo óbvio. Entretanto, meus pensamentos foram iluminados pela certeza de que aquela terra havia passado por um apodrecimento natural e inevitável.
Para tornar a terra fértil, cava-se um buraco; deposita-se nele o material orgânico. Esse é coberto por uma camada de terra. Com o tempo, o lixo orgânico apodrece. Em suas entranhas, a Mãe Terra o decompõe para dali algum tempo devolver-lhe a vida. A complexidade da equação ocorre fora do alcance dos olhos curiosos. No ventre da Mãe Terra. Naquele lugar assustador. Povoado pela escuridão. Nesse receptáculo de morte, engendra-se a vida.
Esta informação pareceu-me esclarecedora. O gosto de lama deveria fazer parte de meu processo de decomposição. Deparar-me, com os medos, com as carências, com a incapacidade, com os motes, com as raivas, com os sentimentos mesquinhos, assusta. No entanto, ao depositá-los em meu território sagrado depuro o meu ser.
Entro em contato com a aridez de meus temores. Com a enorme ausência de vida. Lambuzo-me com a podridão dos meus desejos. Nesse contato direto, sem preservativos, encontro os resquícios do monstro ferido, acuado. Aquele que me faz reagir por meios ilícitos. E, ele sangra o fel da rejeição. Expõe a ferida. Urra por regeneração. De seus gemidos, compreendo a ansiedade que assola a alma. Seus espasmos ecoam como soluços, impossível conter a avalanche de emoções que esse contato detona. A água percorre meu corpo. Jorra das vísceras desse animal ferido. Currado em seus princípios. Fico ali. Paralisada. Vejo em seu semblante os traços contorcidos de minhas emoções. Cristalizadas. Petrificadas. Exibe com ferocidade meus inconfessáveis complexos, medos, quereres, desejos ínfimos. Numa torrente avassaladora, reconheço-me em seu sentir. Percebe minha aceitabilidade. À luz da recepção, responde com um facho dourado de energia. Das lágrimas resulta o suspiro. E, dele o riso de interação. O monstro se foi. Restauro meu animal sagrado. Desse confronto, veio à força de minha sombra. A consciência da construção obsoleta e defensiva de estruturas contra a vida. Os padrões pelos quais me pautei. As verdades em que acreditei, os medos que me paralisaram, a enorme carência de amor mascarada. Assumo e devolvo-lhe o estratificado em mim. Descobrir o monstro requer integridade interior. O barro dessa taça mistura-se à água. Para aqueles que se perdem nesse combate, a taça deturpa o sabor da água.
Aflora a minha consciência as verdades-externas que absorvi; os delírios sociais que comunguei; os medos e doenças que internalizei. Nada era meu. Fui depósito de crenças. Valores que aprendi e não são meus. Tudo isso foi jogado na minha essência. E, ela, auxiliada pelo meu animal sagrado, tece a fertilidade de minha terra.
Levou tempo. Muitos eclipses ocorreram. Entretanto, por detrás e por baixo desse mundo diário, sob a luz do dia – que me fizeram acreditar ser o único real, existi um outro mundo profundo e denso, cheio de riquezas ocultas e mistérios – que contém meus potenciais a serem desenvolvidos. É nesse lugar macio e primitivo de meu ser que minha essência elabora a transformação. Nele não há relógio digital. Apenas existe a solicitude.
Nesse estado interno, existe o mapa invisível de meu caminho. Tal qual a planta depositada na terra boa. O alimento que absorvo vem desse mundo subterrâneo. Em sua escuridão, aprendo a olhar com os olhos da fé para minha alma. Em sua densidade, despejo os detritos de meus contatos com o mundo. Deixo nela o vírus inimigo. Para que lá seja exorcizado. Quanto mais constritos, mais sofrimentos. Na entrega, reside à sabedoria. Deixar-se moer dá ao grão de trigo a sublime tarefa de alimentar. Viver exige mais do que um moinho para esmigalhar nosso grão. Sentir o Amor, percebê-lo em seu peito, deixa-lo agir, permitir-se ser a taça por onde ele se derrama é a experiência mais enriquecedora. Compreender isso e que Ele (Amor) se instala em nós. E, Ele e não nossa razão que atua, escolhe, faz. A entrega da razão nesse momento significada a humildade em reconhecer que a minha razão não sabe, e reverencia conscientemente essa energia que tudo pode; tudo sabe; tudo vê. Sou o grão de areia e o mar da energia amorosa me penetra limpando, lavando minhas tristezas, meus julgamentos, meus temores até estar pronta para experenciar além de mim, transcender.
Ao colocar a planta no oitavo e último vaso, retorno serena de meus pensamentos. Aterriso transformada nessa realidade externa. Desbloqueei os canais. As folhagens são o único sinal de que viajei para meu interno. Exibem faceiras o gosto de terra nova a abrigar-lhes. A água que se derrama sobre elas desce límpida por entre a terra. Minha taça transborda a água vivificadora da alma. Sinto a energia do Amor agindo movimentando-se em cada átomo do meu ser. Limpa meus pensamentos, aprofunda meu sentir, aprendo nessa energia a acolher e nutrir o melhor em mim e no outro. Meu olhar agora se fixa, potencializa o positivo em mim e no outro. Vejo não mais com meus olhos externos, mas sim com os olhos internos assentados no Amor. Desta forma, nada em mim e no outro é para machucar. Toda a dor é apenas para mostrar a rudeza que precisa ser lapidada em nós. Mostra-nos a espessura da armadura que precisa ser derretida. Através da entrega, aprendo a confiar na energia que sinto.
Desse lugar de onde venho, resta-me uma pergunta: quantos vasos serão precisos experenciar para que o humano em nós possa reencontrar sua fertilidade amorosamente divina?

Sensações

- Sensações -



Da janela de minha alma, um querubin jeitosinho pede permissão para conduzir meu olhar ao lado de fora. A leveza de suas asas conduz meu ser à moldura amendoada de meu corpo. Permito-me o desligar da racionalidade. Confessa-me ser esta a senha para se transitar no altar dos deuses.

Fala-me das possibilidades desse campo de visão, como se fosse presente do Olimpo. Conta-me de seu mundo. De seu lugar sagrado. Seu código é musicalizado pelos sons de um acorde amoroso. Não parece com nada que conheço. A não ser por esta sensação de algo tão meu. Entendo as cócegas que essa linguagem provoca em meus ouvidos. E, a curiosidade da minha visão. Cochicha que em seu mundo as coisas são o que precisam ser. Cada um harmoniza-se com o todo sem delimitações/restrições. Encanta-me com sua simplicidade.

Seu convite é meigo, doce como o olhar de um deus. Para o passeio, impõe suas exigências. Pede o desnudar de máscaras. Encaro a proposta como capricho. Dou-lhe um sorriso e concedo. Manhoso, descobre meus pensamentos. Ri de minha ingenuidade. Brinca comigo. Despir-se é necessário. Fala, agora, de forma austera. Estranho e, ao mesmo tempo, compreendo. Deixo minhas expectativas de lado. Sei que necessito tirar o manto pesado de falsas certezas cotidianas para que o segredo, pelo qual vivo, se irradie em raios luminosos no mundo das sensações. Concedo-me o prazer de sentir sem julgar.

Sente minha alternância de atitude. Passa a me chamar Cristal. Não me surpreendo. Soa conhecido. Desperta algo. Como se invocasse por algum velho Xamã. Sigo. Pousa em meu ombro direito. Aponta-me para o horizonte. Nessa tela de um filme desconhecido, vislumbro matizes, sons, cheiros e uma incrível sensação de paz. Uma transmutação desvela meu ser. Sinto-me quente. Algo, em mim, queima. Chama de um fogo sagrado, transcendente. Meu corpo parece ceder lugar a sensações estrangeiras, torna-se território confiscado por um anjo maroto.

Entre meu ser e aquilo visto por meus olhos, há as sensações mediadoras. Como uma ponte. De um lado, o corpo. No outro, meus olhos. Na extensão, os nervos exibem um abismo de possibilidades. Tão reveladoras quantas as que vê em meus olhos. Minhas sensações. E eu, tola, tento negá-las. Como esconder a quentura da vela? Como disfarçar a chama da alma? Como abafar a sensação do corpo?

Percebo o suave toque das suas asas em meu ombro. Vejo que o anjo continua a invadir meus pensamentos. Não se assusta com o que vê. Não o censuro. Deixo que se instale comodamente na parede de minha memória. Pinte e borde com as cenas que ali vê. Não me importo com a invasão. No trajeto, descobrimos juntos o calabouço: esconderijo de minhas sensações. Lança uma luz a emoções e a desejos esbranquiçados pelo osso translúcido do tempo. Tal qual rebento, descobre trilhas secretas no útero das veias do sentimento, passa a desbravar o território desconhecido de minhas sensações. A verdade dói apenas àqueles que temem se descobrir no entulho de medos armazenados pelo lixo colhido do coletivo. Verdade: caça-jeito. Feito luz lunar assistida por estrelas cadentes de nossos desejos.

A paisagem se transforma. O pôr-do-sol seduz o olhar. Seu tom aquece as estrelas da paixão e cede sua luz ao espelho de sua imagem antagônica. Ao comando dessa, inúmeras partículas se acendem. Distantes, longínquas. Brilham em tonalidades diferentes. Vistas daqui assemelham-se ao brilho de um olhar. As sensações trancafiadas no calabouço pouco a pouco emergem. Instalam-se em meus nervos. Transitam ao sabor dos estímulos nervosos provocados pela visão. O querubim observa os efeitos dessa imagem em mim. Dirige sua atenção às minhas sensações.

Descubro, nessas trilhas abertas pelo anjo, que o caminho já existia. O mundo das sensações só se extingue na ilusão dos racionais. A chave do calabouço, apesar disso, existe para aqueles que se entregam despojadamente a sua verdade. Sentencia que sou responsável por esta redescoberta. Agora, que a trilha foi reencontrada, preciso demarcá-la para novas aventuras.

Suas fronteiras precisam ser conhecidas. E, sua magia: explorada. Com o meu território sagrado desvelado, aponta-me a responsabilidade da conexão entre ele e tudo que existe.

Ah, como é bom desligar-se do real. Ao funcionar no piloto-automático, permitimos o contato com este mundo sagrado das sensações que só os deuses - por não se pensarem - conhecem. Neste lugar aprende-se que as duas dimensões se fundem e coexistem. Queimo o incenso em agradecimento, e retorno a outra tão conhecida realidade.

Ser feliz é sintonizar-se com a alma do Grande Mistério. Requer tão pouco que os mortais desconfiam.
Essas tardes assim....

Hoje o dia iniciou normal. Relogio despertou, 06:15. Banho. Roupa. Café. Escova de dentes. Perfume. Cabelo. Enfim, pedi um taxi. Expliquei da necessidade de informar ao motorista que precisava de troco para vinte reais. Afinal, a corrida dá em torno de R$5,50. Pasmem: o taxi foi pedido 06:50, chegou 07:20. Graças a Deus chegou. Motorista muito educado. Expliquei onde ir. Entretanto, fez o pior caminho. Pra mim. Para ele, levou mais R$4,00. Entendi naquele momento que ali cada um estava olhando a partir do seu umbigo. Eu, querendo chegar logo. Ele, querendo uma corrida mais vantajosa. Poderia ter discutido, criado uma situação.Até porque expliquei por onde ir, E, ele se aproveitou (se isso é possivel) de minha distração com bolsa, celular, material. Fez o caminho que achou mais conveniente. Tudo isso passou em minha mente. Respirei fundo e resolvi assumir a responsabilidade da situação e não permitir que ela ditasse o meu dia, decidi aceitar que era o melhor que podia ter acontecido. Paguei o taxi e contribui com um real para o cafezinho do taxista, pois foi meu jeito de dizer a vida que estava legal. Olhei pro céu, percebi as nuvens o friozinho de outono. De-li-ci-o-so. Preferi essa sensação àquela do taxi. Segui a manhã. Que em um piscar de olhos passou a minha frente. Sem dar chance, de pensar muito. A rotina de um colégio não tem nada de rotina. É "na veia" como dizem meus "anjinhos" (alunos).



Sai do colégio por volta das 12:30, o olhar elevou-se ao céu que entre as nuvens de chuva mostrava um sol timido, mas intenso. Outras atividades aguardavam-me. Um café-almoço. Pessoas adoráveis. Dicas para o blog. Enfim, um bate-papo gostoso daqueles que você quer passar a tarde inteira, mas ... . Conformei-me pois se corria o risco de tomar-um-chá-de-banco, como dizia vovó, á tarde toda, pelo menos estaria acompanhada de alguém com quem tenho afinidades e o papo rola legal.



Perfeito. Ficamos duas horas e meia esperando para nos atenderem. Hehehe. Conversamos. Do trivial ao profundo. E percebi a impaciência das pessoas que esperavam como nós. Os chiliques de alguns por esperar. E me via ali. Calma. Conversando com alguém que admiro, confio, tendo de quebra o céu de Porto Alegre, visto do décimo andar, o vento de outono. De novo, percebi-me optando por ficar com aquela sensação de bem-estar, tendo consciência do mal estar a minha volta. Como disse mais acima, o tempo passou sem sofrimentos. Possibilitou-me um aprofundamento na relação de amizade, um compartilhar de coisas que considero tão significativas entre as pessoas. Quando fomos atendidos, constatamos a objetividade necessária daqueles que estão à frente de funções de comando. Além disso, o quanto somos uma pequena célula frente ao sistema todo. Saindo de lá, fomos ao tradicional lanchinho. E, mais bate-papo.



Ao retornar pra casa, solitária num banco da lotação, olhava pela janela o movimento, as pessoas e novamente o céu. O céu de final de tarde de outono. Lindo! O burburinho dos carros, o cansaço estampado nos rostos das pessoas - e provavelmente no meu - mas o céu continuava ali. Lindo. Encantador. Algumas músicas passaram pela mente. Cheguei a murmurar alguns sons. Encostei-me melhor no banco e fiquei admirando o céu, ouvindo as buzinas, as pessoas. Permite-me apenas sentir.



E, fui invadida por uma letra de música que ouvi tempos atrás do grupo Anjos de Resgate "Invade minha Alma, me ama e me acalma, me cura e me salva, tua intimidade quero conhecer, ... teu corpo, teu sangue me levam pro céu". Percebi aquecer minha Alma. Senti as asas do anjo maroto a envolver-me. Meus pensamentos viajaram no tempo, estacionaram em cenas gravadas com fogo nas paredes da memória, e percebi que o Amor apenas e tão somente É. (e ponto). Você não tem como dizê-lo, descrevê-lo .. enfim. Você Sente! Ele é a combustão, O transformador! Nenhum ser por ele visitado é o mesmo. Ele tem a capacidade de fazer a vida ter realmente cor. Ele toca tudo através de nós e torna tudo sagrado. Invadiu-me uma sensação de céu, de extase tão profundo que as-fichas-caíram e eu reles mortal curvei-me ao imponderável. O AMOR está em nós esperando que a gente dê a chance para que ele nos mostre o quanto absolutamente TUDO nesta vida é obra de sua ação. ABSOLUTAMENTE TUDO!!!



Minha absoluta reverência a esse SER chamado AMOR!! Hoje entendo mais um pouquinho do que São Francisco de Assis quis dizer quando falou aos seus companheiros " Eu AMO o AMOR". Neste dia que tinha tudo pra ser mais um cansativo dia, compreendi mais uma faceta da dádiva de AMAR. EU AMO O AMOR, SIIIIIMMMM! Sou sua eterna aprendiz! E digo SIMMMMM sempre a ele! E peço a Deus que sempre, sempre, sempre me ajude a estar aberta aos aprendizados. Minha gratidão....

Sacrifício: tornar sagrado o oficio



Dia desses a palavra “sacrifício” chamou minha atenção. Os contextos foram os mais variados. Decidi buscar o significado da palavra, pois a intuição me cutucava para uma bela lição. Lá fui eu ao ....dicionário. E, no Aurélio:


Sacrifício: 1. Ato ou efeito de sacrificar-(se);


2. privação de coisa apreciada;


3. renúncia em favor de outrem
Fui mais a fundo na pesquisa, cheguei à origem da palavra. E ela vem do latim sacro oficium , ou seja, “oficio sagrado”, quer dizer mais ou menos “tornar sagrado aquilo que se faz”, seja lá o que for. É ir além, é tocar o intocável. Não sei se consigo passar o que a intuição levou-me a pescar. Entendi porque muitas vezes atividades feitas, ou mesmo escolhas que fiz, tinham um “quê” diferente. Algumas vezes senti o peso do segundo significado da palavra, ou seja, a privação de algo apreciado fora maior do que o desejo inconsciente – naquele momento – de tornar o ato sagrado.

Percebi o quanto, nós mortais, na maioria das vezes, somos inconscientes do que fazemos, do por que fazemos e para que fazemos. Compreendem? Criamos nossa própria realidade a partir das escolhas feitas e a partir delas colhemos seus frutos.

Entretanto, inúmeras vezes a lamuria do quanto nos sacrificamos em prol de alguém, de uma situação, de uma causa e com isso estamos cobrando aquilo de que estamos sendo privados, quando na verdade deveríamos ser gratos pela oportunidade que nós mesmos criamos para tornar sagrado o que estamos fazendo. Afinal, nossa condição humana leva-nos a querer transcender essa condição. Mas, no momento, ao choramingar, como crianças mimadas, perdemos a chance e com ela o peso do ato torna-se realmente insuportável.

Entendi que em cada final de ciclo – e entenda-se aqui final de ciclo por etapas vivenciadas ao longo da vida – somos colocados em situações de “sacro oficium”. Situações essas que oportunizam a escolha do sacrificar-se em prol de algo maior ou não. E aqui o maior não tem a ver com grandioso, mas sim com algo de significação para nosso aprendizado. Algo que a própria Alma almeja alcançar, pois faz parte de sua trajetória.

Essa travessia é delicada, pois ao colocar o enfoque na privação somos levados ao peso da escolha, que nos leva ao medo, que nos leva a lamuria e a densificação (entenda-se materialização da energia negativa) do medo – muitas vezes cristalizado em doenças.

Agora, quando se consegue enfrentar com alegria e leveza o sacrifício, sem focar a privação nem o quanto isso nos pesa, alcançamos além do aprendizado a transcendência para um novo estágio de ensinamentos. Somos alçados a um novo patamar, onde somos eternos aprendizes. A humildade, nesse caso, é uma chave para abrir as portas que se encontram nesse novo estágio.

A vida tem mecanismos incríveis para nos conduzir, basta que estejamos alertas, dispostos ao aprendizado. Até uma palavra tão simples, dita inúmeras vezes inconscientemente, esconde ensinamentos.

Margarida Kröeff






CONSCIÊNCIA - Maria Madalena e o perfume precioso


Esse texto é uma pérola muito preciosa para mim. Quando li pela primeira vez, foi em um momento de profunda transformação, de nervo exposto. E, acredito que só pude entendê-lo na sua profundidade pelo processo que em mim estava ocorrendo. Compartilho com você leitor essa leitura. E, ressalto a parte do texto que mais me tocou,


Que possamos desenvolver o olhar do coração, o olhar do amor que realmente vê, pois é a sabedoria tão almejada. Entender que tudo que é feito de forma não qualificada é, na verdade, uma súplica da ausência do amor por amor. Que o AMOR preencha cada átomo de nossos corpos para que realmente possamos VER.

Deleitem-se com o texto......





"CONSCIÊNCIA...





A sociedade está continuamente lhe dizendo o que está certo e o que está errado. Chamam isso de consciência. Ela se fixa, fica implantada em você. E você fica repetindo isso. Mas isso não tem valor, não é verdadeiro. O que é verdadeiro é sua própria consciência. Ela não traz respostas predefinidas, sobre o que está certo e o que está errado. Mas, instantaneamente, em qualquer situação que surgir, ela lhe traz a luz, e você entende imediatamente o que deve ser feito.



MARIA MADALENA E O PERFUME PRECIOSO:





Jesus foi visitar a casa de Maria Madalena. Maria o amava profundamente. Ela verteu um vidro inteiro de um perfume muito precioso em seus pés. Era um perfume tão caro que poderia ter sido vendido. Judas reagiu imediatamente, dizendo: "Você deveria proibir as pessoas de fazer essas coisas sem sentido. O perfume ficará estragado e há pessoas pobres que não têm nem o que comer. Você poderia ter distribuído o dinheiro para os pobres." Jesus disse: "Não se preocupe com isso. Sempre haverá pobres e famintos, mas eu terei partido. Você pode servir a eles durante toda a sua vida, mas eu terei partido. Olhe o Amor e não o precioso perfume. Olhe para o Amor de Maria, para o seu coração."

Com quem você concorda? Jesus parece adotar uma postura muito burguesa e Judas parece perfeitamente econômico. Judas fala sobre os pobres, e Jesus diz apenas que ele partirá em breve, então Maria deve fazer o que seu coração deseja e Judas não deve interferir com seus pensamentos. em geral você irá concordar com Judas. Ele era um homem culto, sofisticado, um pensador. Entretanto cometeu uma traição, vendendo Jesus por trinta moedas de prata. Mas, quando Jesus foi crucificado, ele começou a se sentir culpado.

É assim que um homem bom funciona. Começou a se sentir culpado, sua consciência começou a perturbá-lo. Ele cometeu suicídio. Era um bom homem e tinha uma consciência. Mas não era consciencioso. Essa distinção precisa ser sentida bem a fundo. A consciência é emprestada, fornecida pela sociedade. A consciência é sua realização. A sociedade lhe ensina o que é certo e o que é errado: faça isso mas não aquilo. Goste disso por isso, não goste disso por aquilo. Ela lhe dá a moral, o código, as regras do jogo, as crenças, os padrões, os modelos de bom. belo, de masculino e de feminino. Essa é sua consciência. Do lado de fora, o policial, do lado de dentro, a consciência. É assim que a sociedade mantém controle sobre você. Judas tinha uma consciência, mas Jesus era conciencioso. Jesus estava mais preocupado com o amor da mulher, de Maria Madalena. em algo tão profundo que coibi-lo seria ferir seu amor, ela iria afundar dentro de si mesma. Verter o perfume nos pés de Jesus era apenas um gesto. Por trás dele, ela estava dizendo: "isso é tudo que eu tenho, a coisa mais preciosa que possuo. Verter água não seria o bastante, ela é barata demais. gostaria de verter meu coração, gostaria de verter todo o meu ser." Mas Judas tinha apenas sua consciência. Olhou para o perfume e disse: "Isso é caro." Estava completamente cego para a mulher e seu coração. O perfume é material, mas o amor é imaterial. Judas não conseguia ver o imaterial. Para isso, você precisa dos olhos de quem é consciencioso. Você precisa do olhar do amor. O olhar de dentro -do coração- que vê além do material. E vê além das ilusões. (OSHO, O livro da transformação - histórias e parábolas das grandes tradições para iluminar sua vida, Editora Sextante).